Johnny Vai à Guerra (Johnny Got His Gun – 1971)
Guerrear: o instinto mais antigo e arraigado entre os
humanos (sapiens?), causador de flagelos excruciantes e traumas inolvidáveis
naqueles que participam de tal ato. Símbolo maior da estupidez. Quisera
fizessem parte apenas de nossas brincadeiras infantis, deixadas para trás ao
primeiro sinal de amadurecimento. Quisera este livro (e posteriormente filme)
de Dalton Trumbo fosse obra de pura ficção escapista.
A realidade é muito diferente, continuamos a assistir jovens
imaturos sendo trucidados em batalhas cujos objetivos nunca são muito claros. O
exército ainda obriga os adolescentes a se alistarem, para que sejam
apresentados à brutalidade e aos treinamentos burlescos. Quisera no lugar deste
alistamento obrigatório nos quartéis, nossos jovens fossem obrigados a se
“alistarem” em uma biblioteca, onde teriam que passar um ano em contato com os
expoentes da literatura universal, “marchando” entre Descartes e Camus. Deste
modo talvez nós tivéssemos uma nação melhor, porém deixemos de lado as utopias
e voltemos a analisar a obra.
Trumbo se inspirou no caso real de um soldado da Primeira
Guerra Mundial que havia perdido todos os seus membros e sentidos durante a
batalha, tendo ficado preso a uma cama de hospital por vários anos no Canadá.
Ele continuava vivo e dava sinais de que entendia tudo o que acontecia a seu
redor, porém não conseguia se comunicar. Esta terrível e inimaginável angústia
levou o jovem escritor a criar em 1939 a obra com a qual receberia o prêmio “National
Book Award”. O sucesso o levaria à Hollywood, onde se tornou o roteirista mais
bem pago da década de 40. Somente na década de 70, ele conseguiria dirigir sua
obra mais famosa e ainda surpreendentemente atual.
A mensagem pacifista do filme já nasce no irônico título,
que em inglês derivava de uma expressão usada para incentivar a juventude
americana do início do século dezenove, a se alistar nas forças armadas. Algo
como: “Garoto (Johnny), pegue sua arma!” No caso do filme, o “Johnny” aceitou pegar a
arma e destruiu sua vida neste processo. E a maneira como o diretor nos envolve
nesta tragédia humana é tecnicamente louvável. Dividindo a narrativa em dois
espaços temporais: seu tempo presente, confinado na cama do hospital é visto em
preto e branco, enquanto suas memórias e alucinações são vislumbradas em
gloriosas e vibrantes cores. A cada lembrança que nos é apresentada, mais nos
comovemos com aquele personagem, que nos cativa com sua ingenuidade, com sonhos
que se principiavam em seu primeiro amor e que agora após ter pisado em uma
mina, nada mais é que um torso em uma cama. Os médicos não sabem se ele está em
coma, porém nós conseguimos ouvir todos os seus pensamentos e suas tentativas
de se comunicar. Nem mesmo o suicídio lhe é permitido, devido a uma
traqueostomia.
O filme foi premiado em Cannes e foi banido em nosso país na
época da ditadura, mas hoje se encontra disponível em DVD. Não é uma obra fácil
de assistir, mas a recompensa ao final (e as possíveis modificações que operará
em você) fará valer cada segundo.
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