Karatê Kid 2 – A Hora da Verdade Continua (Karate Kid, Part
2 – 1986)
Daniel (Ralph Macchio) já havia conquistado sua tão
necessária confiança em si mesmo, na decisão do torneio exibido no filme
anterior. O que me atraía quando adolescente nesta segunda aventura era
exatamente o que muitos consideram um erro: a viagem do jovem e seu mestre até
Okinawa. O terceiro filme repetiria a fórmula do original, resultando em uma
obra divertida, porém inferior. Nesta segunda parte somos apresentados a um
protagonista mais maduro (que incrivelmente regrediria no terceiro), decidido a
entender as motivações de seu mestre Miyagi (Pat Morita).
A obra oferece muito
espaço para Morita exercer sua arte, uma decisão com certeza influenciada pela
indicação ao prêmio (Oscar) como coadjuvante no original. O velho sábio retorna
à sua cidade natal e encontra um velho amigo, agora corrompido pela amargura (devido
a uma mulher que ambos amavam outrora) e disposto a fazê-lo pagar por sua
desonra. O sobrinho dele é a antítese do personagem de Daniel, um reflexo
distorcido no espelho da vida. O jovem Chozen (Yuji Okumoto) despreza o garoto
americano desde o primeiro momento, vendo nele (e na relação dele com Miyagi)
todas as qualidades que gostaria de possuir, mas que nunca teve coragem de
clamá-las.
Lembro que na primeira vez que assisti, fiquei muito emocionado
no momento em que Daniel resgata uma criança presa no alto de um poste em uma
violenta tempestade. A cena em si é comum, mas aquela que a antecede, mesmo
simples e silenciosa, mostra-se impactante: Chozen procura refugiar-se do
tufão, dando o tio como morto, enquanto Daniel e seu mestre (mesmo sendo
perseguido por ele) recusam-se a acreditar e resgatam-no. Uma criança
desespera-se presa a um alto poste e chora por ajuda. Daniel corre para
salvá-la, enquanto Miyagi leva seu velho amigo para um local seguro. Chozen
exibe surpresa ao vê-lo vivo, no que seu tio lhe implora que ajude o jovem.
Após a covarde negação de seu sobrinho, o desolado homem então impede que
Miyagi resgate o jovem que já se encontra no meio do caminho (com a criança nas
costas), afirmando seu desejo de ir ele próprio ao resgate. Emociona o olhar de
orgulho do mestre, ao ver que seu pupilo e seu nêmesis conquistaram maturidade
e evoluíram como seres humanos, seguido das palavras que o tio profere ao
sobrinho: “agora, para você, eu estou morto”. Uma solução narrativa simples,
mas incrivelmente eficiente.
A conclusão com a batalha entre Daniel e Chozen, mesmo sendo
teoricamente mais impactante que a do filme original, por não de tratar de um
torneio, mas sim uma luta pela vida e sem regras, não consegue superar a força
desta bela cena que evidencia o heroísmo do protagonista, que nasce do desejo
de lutar contra a passividade, revidando sem superpoderes os golpes da vida.
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