O Homem do Riquixá (Muhomatsu no Issho - 1958)
Matsu é um pobre puxador de riquixá. Um dia ele ajuda um
garoto ferido chamado Toshio, conquistando a gratidão de seus pais, o capitão
Kotaro e sua esposa Yoshiko. Com a morte de Kotaro, Matsu se aproxima da viúva
e do menino, apesar do abismo social que os separa.
Como pode ser visto próximo do desfecho de "O Homem do
Riquixá", Hiroshi Inagaki gostava de experimentar efeitos especiais
primitivos, buscando alternativas para o padrão de se contar histórias em seu
país. Comparável à Kurosawa, seu estilo era de apelo universal, com forte
inspiração no cinema ocidental. Sua carreira iniciou no cinema mudo e alcançou
popularidade em 1943, com "Muhomatsu no Issho" (primeira versão de
"O Homem do Riquixá"). Porém foi com a "Trilogia Samurai", iniciada em 1954, que o diretor conquistou o público
estrangeiro, vencendo o Oscar de Filme Estrangeiro. Mas nenhum de seus filmes é
tão terno quanto este que abordo neste texto.
Ainda se acostumando ao enquadramento "TohoScope"
(uma versão do "CinemaScope"), o diretor oferece ao menos uma
sequência em que aproveita apropriadamente este recurso: o carregador de
riquixá se afasta de seu cliente (um homem com aspecto nobre) e vai em direção
ao menino (no outro extremo da tela), ajudando-o a consertar a linha de uma
pipa. Um humor quase pastelão se inicia, enquanto somos levados a focar nossa
atenção nos dois extremos. O cliente irritado pula e bate com seu guarda-chuva
no chão (como em um desenho animado), contrastando com a serenidade de Matsu (Toshiro
Mifune) e seu pequeno amigo, que calmamente realizam seus afazeres.
Algumas cenas emocionam com extrema sensibilidade, sem nunca
soarem apelativas. O breve momento em que Matsu (que afirmava orgulhoso só ter
chorado uma vez na vida) assiste a apresentação do menino, que vence sua
timidez cantando em público, deixando transparecer sua emoção e orgulho. A
cumplicidade entre o pobre homem e o menino, que quando criança desconhece o
abismo social que os separa, vendo-o como um herói, seu melhor amigo. Com o
passar dos anos, já adolescente, sente-se envergonhado quando, perto de seus amigos,
escuta o velho amigo chamando-o pelo apelido carinhoso de infância. A expressão
no rosto de Toshiro Mifune, quando percebe que aquele rapaz não o reconhece
mais como outrora, desaba qualquer coração. Ele, que se sentia um rei apenas
por conquistar o olhar de admiração do menino ao vê-lo vencer uma corrida em
uma gincana, agora não podia mais demonstrar seu carinho por ele em público.
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