sexta-feira, 16 de agosto de 2013

"A Felicidade Não Se Compra", de Frank Capra


A Felicidade não se Compra (It´s A Wonderful Life - 1946)
"Dê-me apenas um bom motivo para que eu esteja vivo". São as palavras de George Pratt (George Bailey na adaptação cinematográfica) para o enigmático baixinho (que no filme se mostra claramente como um anjo, chamado Clarence) que o encontra desolado em uma ponte, na véspera do Natal. Por motivos que não são explicitados no conto “The Greatest Gift”, de Philip Van Doren (no filme as causas são exploradas), o homem se encontra em profundo desespero e cogita o suicídio. Ignorando todos os aspectos positivos de sua vida, pensando apenas em eventos recentes que o abalaram negativamente, ele está disposto a desistir de tudo, impulsivamente. Caso esperasse algumas semanas e o natural (cíclico) girar do mundo, poderia ver como seus problemas não eram tão devastadores como ele temia. Nunca o são. Sempre existirá uma flor que romperá o asfalto, contrariando as expectativas mais pessimistas.

James Stewart e Donna Reed encantam como um casal que é separado por uma escolha. Ao descobrir-se em um mundo onde sua amada não está ao seu lado, George, como muitos que passam por traumáticas experiências de quase morte, retorna ao lar, ao seu próprio universo, que chegou a renegar, intensamente modificado. Atenção redobrada ele concede ao que antes considerava irritantes defeitos, como o problema com sua escada. A falta de um diploma emoldurado em sua parede, algo que o fazia se sentir um derrotado, acabou com o tempo fazendo-o crer que apenas sua morte, e o seguro de vida que viria, poderia dar à sua família uma vida melhor. George conduzia sua existência pelos moldes de seus amigos, acreditando que a felicidade deles era a mesma que a sua. O diretor Frank Capra, com seus doze arrebatadores minutos finais (muito mais eficientes que o desfecho do conto), demonstram para nós que o maior presente que temos é a oportunidade única de compartilhar essa lúdica experiência da vida com outrem. Descobrimos que cada ação, cada problema e cada sorriso são catalisadores de mudanças que vão muito além de nós mesmos. Sua vida, por mais medíocre que lhe possa parecer, faz enorme diferença. Você, mesmo lutando para pagar suas contas com extrema dificuldade, pode e deve ser muito mais feliz que qualquer milionário.

Muito dessa dignidade no papel é mérito de James Stewart. Ele foi considerado por seus colegas na indústria como a epítome da elegância. Sua natureza era genuinamente íntegra, levando-o a não se furtar de expor suas opiniões, suas verdades, mesmo quando havia grande chance de que elas caminhassem contra o senso da maioria. Falava abertamente contra o processo de colorização de filmes clássicos, algo interessante financeiramente para a indústria, durante a década de oitenta, como uma forma de protestar contra o que considerava uma falta de respeito com os profissionais que haviam trabalhado naquelas obras. Amava especialmente, dentre todos os seus papéis, o que interpretou no belo "A Felicidade Não se Compra". O personagem que ele defende neste clássico é um reflexo fiel de sua conduta em vida. O generoso que arrisca perder sua sanidade, mas não admite que seus valores tombem ou sequer se curvem perante o que considera errado.

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