quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Tesouros da Sétima Arte - "O Incrível Homem que Encolheu" e "O Segundo Rosto"


O Incrível Homem que Encolheu (The Incredible Shrinking Man – 1957)
O escritor Richard Matheson é o responsável por algumas das melhores obras fantásticas já criadas, como “Em Algum Lugar do Passado” (Bid Time Return / Somewhere in Time), “Amor Além da Vida” (What Dreams May Come) e “O Incrível Homem que Encolheu” (The Shrinking Man). Dirigido por Jack Arnold, o filme deslumbrou o público da época com suas proezas técnicas, que conseguiram retratar de forma brilhante o pesadelo Kafkiano vivido pelo trágico protagonista. Scott Carey (Grant Williams) leva uma vida tranquila com sua amada esposa Louise (Randy Stuart), até que ele atravessa um espesso nevoeiro em um relaxante passeio de barco. Gradativa e lentamente, ele começa a encolher, o que o leva a uma crise existencial.

Existem várias cenas que considero brilhantes, como aquela em que ele discute com sua esposa no carro, logo que começa a perceber seu problema. Pequenos detalhes, como quando sua aliança cai de seu dedo (um dos sinais de sua nova condição física) após a discussão. O emocionante monólogo final (escrito pelo diretor), que responde a eterna pergunta de Scott: “Ainda sou humano?”. Acima de tudo, a ousadia de utilizar um tema que teria tudo para ser tratado de forma boba ou infantil, adicionando a ele elementos psicológicos e questionamentos atemporais. Dificilmente o tema seria tratado com a mesma densidade no cinema moderno, onde seria retrabalhado para algo divertido como “Querida, Encolhi as Crianças”.

Quer uma dica? Antes de assistir o filme, leia (ou releia) o conto “A Metamorfose” (de Franz Kafka), em que um homem desperta de uma noite de sono para descobrir-se inexplicavelmente transformado em uma barata. Não somente pelo prazer da leitura combinada ao filme, mas também para perceber as semelhanças e diferenças (Kafka faz com que seus familiares lhe rejeitem, enquanto a esposa de Scott mantém-se fiel ao seu lado) entre seus dois miseráveis personagens. Sem dúvida, um dos filmes mais interessantes da década de 50.



O Segundo Rosto (Seconds – 1966)
Em sua essência, um pesadelo Faustiano dos mais assustadores. Uma resposta corajosa para a eterna questão: o que você faria se lhe fosse ofertada uma segunda oportunidade na vida? É o que descobre o personagem vivido por John Randolph, quando é convidado a participar de um enigmático projeto. Já tendo passado dos cinqüenta anos e dedicado toda sua vida ao trabalho exaustivo, possui uma oportunidade única de renascer com uma nova identidade. Com o auxílio de cirurgias plásticas, recebe sua jovialidade de volta e a liberdade para evitar cometer os mesmos erros.

Rock Hudson interpreta o personagem após o renascimento, com uma entrega raras vezes experimentada pelo ator, acostumado na época ao conforto dos papéis de galã. Sua interpretação é auxiliada pela câmera instável de John Frankenheimer, fundamental para que nos envolvamos na atmosfera onírica da obra.

O filme (como todos à frente de sua época) não fez sucesso em sua estreia. Chegou a ser vaiado em Cannes. Visto hoje, com sua fantástica abertura idealizada pelo genial Saul Bass, uma trilha perfeita de Jerry Goldsmith e uma fotografia impecável de James Wong Howe, se apresenta incrivelmente atual, tocando fundo no questionamento de como a sociedade é estruturada.  

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