Rocky 5 (1990)
Eu sou fã da criação de Sylvester Stallone (disto não me
culpo), seu projeto dos sonhos deveria ser mostrado em faculdades de
publicidade como um case de sucesso. Ele escreveu o primeiro “Rocky”
se baseando em uma luta épica entre Muhammad Ali e o azarão Chuck Wepner,
ocorrida em 1975. Consigo até imaginar um jovem Stallone, assistindo a luta e (como
toda a nação) acreditando tratar-se apenas de mais uma exibição de habilidade
do franco favorito Ali. Poderia ser dito até que o desafiante não possuía
talento suficiente para estar no mesmo ringue que seu famoso oponente. Porém o
que a sociedade americana assistiu extasiada foi uma demonstração valorosa de
coragem e paixão de Wepner, que não somente aguentava com bravura os golpes de
Ali, como os revidava! Como se sua vida estivesse em jogo, ele acerta uma direita
nas costelas do campeão, que não suporta e desaba. Ali vence a batalha, mas a
real glória é reservada para seu oponente, que contra todas as expectativas,
aguentou firme até o final da luta e ainda provou para uma multidão de
espectadores que deuses também sangram.
Stallone voltou ao tema (após três filmes divertidos, mas sem muita profundidade) da superação em seu quinto projeto, que foi dirigido
pelo realizador do primeiro: John G. Avildsen. Recebido com ódio pelo público
da época, que esperava mais um ufanista projeto americano, com montagens
musicais que substituíssem uma maior competência nos roteiros, “Rocky 5”
continua até hoje bastante incompreendido. Na trama, o boxeador vive as conseqüências físicas e
psicológicas de sua batalha contra o russo Ivan Drago no filme anterior.
Exaurido, endividado e com um tumor no cérebro, Rocky descarrega suas
frustrações ao depositar toda sua esperança no jovem Tommy Gunn (Tommy Morrison),
que à primeira vista lhe remete ao seu próprio passado, quando batalhava para
ser reconhecido. Não demora muito para que seus familiares percebam o caráter
duvidoso do jovem, que utiliza os conselhos do experiente campeão, mas
ambiciona uma carreira de luxo e glamour, que somente Don King George
Duke (Richard Gant) pode lhe oferecer. Neste processo angustiante de
progressiva traição, o filho adolescente de Rocky é o que mais sofre, pois se
sente abandonado pelo pai. Somente quando nosso herói faz as pazes com seu
passado, percebe que ainda deseja “mais um round”, mesmo que seja no frio
asfalto das ruas da Filadélfia.
Sempre me emociono quando revejo este filme, que até a
estreia de “Rocky Balboa” (2006), tinha sido o que mais havia me tocado na
série. Dentre as várias cenas a salientar, como esquecer-me da participação de
Burgess Meredith como seu velho treinador (mentor e amigo) Mickey? Lembro e
aquele velho arrepio (prenúncio das lágrimas) retorna. Após um belo flashback em
meio ao pó e as teias de aranha do velho ginásio, Rocky volta a ouvir as
palavras de Mickey, na intensa luta final. A montagem que intercala o clamor do
velho amigo: “Levante-se seu desgraçado, porque o Mickey te ama”. com um trem
em movimento e o guerreiro levantando-se com um novo brilho no olhar, faz
engasgar até o mais durão dos homens. Stallone pode ter mil defeitos e não ser
competente em vários aspectos de sua arte, mas é inegável que ele sabe muito
bem manipular a emoção de seu público. Tenho certeza que existem muitos
diretores conceituados que adorariam ter esta facilidade, tocar no emocional do
público e levá-lo a esta catarse, tão bem quanto estimulam o lado
intelectual.
Nenhum comentário:
Postar um comentário