Roger Corman
A importância de Roger Corman reside não tanto na qualidade
dos filmes que dirigiu, mas nos atos que realizou nos bastidores de suas
criações. Apaixonado pela Sétima Arte, ele seguia o lema: “a prática leva à
perfeição”. Reutilizava cenários e cenas (um mesmo castelo que brilha sob a luz
dos trovões, em vários filmes), utilizando-se de dias entre uma filmagem e
outra, para a elaboração de um filme inteiro! O seu primeiro sucesso: “A
Pequena Loja dos Horrores” (1960), foi filmado em apenas dois dias e uma noite.
Empreendedor, ele ajudava a financiar produções modestas de outros jovens
cineastas, assim como também dava oportunidades a talentos desconhecidos em
papéis importantes, ajudando-os a serem notados por produtores dos grandes
estúdios, como ocorreu com Jack Nicholson, William Shatner, Robert De Niro e
Dennis Hopper. Ficou famoso com suas adaptações das obras de Edgar Allan Poe na
década de sessenta, onde contava com a presença ilustre de medalhões como
Vincent Price, Peter Lorre e Boris Karloff.
O Castelo Assombrado (The Haunted Palace – 1963)
Entre as adaptações das obras de Edgar Allan Poe, destaca-se
esta obra que referencia o autor apenas em seu título, pois a trama é retirada
de “O Caso de Charles Dexter Ward” de H.P. Lovecraft. Vincent Price (Charles)
vive um homem fadado a dar continuidade aos malefícios perpetrados por seu
tataravô bruxo, que rogou uma maldição contra aqueles que o condenaram à morte
na fogueira. Quando chega à cidade de Arkham (criada por Lovecraft em suas
obras e que originou o “Asilo Arkham” das histórias do Batman) com sua esposa (a
linda Debra Paget em seu último filme), percebe que os descendentes daqueles
que ataram fogo ao seu antepassado, hostilizam-no por ser idêntico a ele.
Indiferente às ameaças que recebe, decide tomar posse do velho castelo que lhe
aguarda como herança.
A trama é similar aos vários contos de casas mal
assombradas, porém alguns aspectos elevam a qualidade desta produção. Enquanto
muitos celebram “O Corvo” (The Raven - 1963) ou “O Túmulo Sinistro” (The Tomb
of Ligeia - 1964) como os melhores desta safra gótica de Corman, meu
favorito é “O Castelo Assombrado”, simplesmente por não conter o ingênuo humor camp da
batalha entre os magos Price e Lorre, nem falhar na resolução de um suspense
bem construído (mesmo “O Túmulo...” sendo um dos melhores). Com esta adaptação
ele consegue alcançar a perfeição, com a bela fotografia de Floyd Crosby (usual
parceiro do cineasta) construindo uma onírica atmosfera, um bom elenco de apoio
(especialmente Lon Chaney Jr.), algumas cenas que ficam retidas na retina,
adentrando os pesadelos (como quando Price e Paget são cercados na rua por
mutantes que lentamente se aproximam) e um roteiro melhor construído que o
usual nesta safra de adaptações, resultando em uma ótima construção de
suspense, com um final ousado.
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