quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Berlin Alexanderplatz - Capítulos 9, 10 e 11


Episódio 9 - Das Eternidades entre os Muitos e os Poucos
Após a dor de saber que Mieze estava se prostituindo, Franz busca algum conforto na presença daquele que foi um dos responsáveis pelo seu acidente: Reinhold. Inicialmente assustado, acreditando se tratar de alguma vingança, logo debocha do sofrimento de Franz, afirmando ter nojo de aleijados, seres que, em suas palavras, são imprestáveis e deveriam morrer. O pobre homem não somente aceita suas duras palavras, como afirma concordar com ele. Reinhold reflete a atitude de Hitler, que desprezava os deficientes físicos, numa clara demonstração do tipo de pensamento que possibilitou a ascensão do nazismo naquela sociedade. O flashback do assassinato de Ida pelas mãos de Franz, neste episódio é repetido duas vezes, com diferentes narrações emoff. O reforçar deste momento pivotal serve para mostrar ao espectador que aquele homem que nós acompanhamos, falível e simpático, também é capaz de cometer atos terríveis. A segunda narração, uma conversa lúdica entre os personagens bíblicos Abraão e Isaac, aborda diretamente o tema do sacrifício, recorrente ao longo de toda a produção. Fassbinder trabalha o conceito de que no capitalismo, as classes inferiores se sacrificam pelo bem das superiores. Algo que se intensifica no segundo ato do episódio, em que Franz e Willy vão a um encontro político socialista.

Episódio 10 - A Solidão cria Rachaduras de Loucura até nas Paredes
Mieze e Eva, as duas mulheres mais importantes na vida de Franz, iniciam o episódio com uma discussão que esconde insinuações de lesbianismo. Mieze quer que Eva tenha um filho com Franz, já que ela não pode ser mãe. Enquanto isso, o protagonista se encontra cada vez mais imerso em sua autocomiseração, entregando-se à bebida. O cenário busca remeter ao estado psicológico em que Franz estava quando assassinou Ida. Fassbinder filma como um voyeur o embate sexual entre Franz e Mieze, que se inicia com os dois bebendo e rolando pelo chão, até momentos em que pensamos que ele irá deixar a fera dentro de si despertar. A forma como a cena é trabalhada, os movimentos pelo cenário remetem a algo animalesco. Então é inserida neste contexto a presença do rico cliente da jovem, que está interessado em torná-la uma amante fixa. Franz chora como uma criança, evidenciando em suas palavras o retrocesso de qualquer progresso psicológico que havia sido feito desde sua saída da prisão. Entregue ao álcool e novamente trilhando o caminho do crime, ele precisa apenas de um gatilho para destravar a fera que estava adormecida.

Episódio 11 - Saber é Poder e Deus Ajuda a quem Cedo Madruga
Em um gesto que insinua a homossexualidade entre o protagonista e Reinhold, Franz o leva para sua casa e o esconde debaixo dos lençóis de sua cama, para que ele visse seu encontro sexual com Mieze, uma mulher decente. Além desta cena, existe outra na qual o subtexto homossexual é latente, quando Reinhold conversa com Mieze e diz que Franz e ele já compartilharam "coisas estranhas" no passado. A forma como ele diz a frase, demonstra que existia mais do que as mulheres que ambos compartilhavam nos episódios anteriores. Franz encontra o gatilho já citado, na forma de um novo amor para Mieze, o jovem sobrinho do seu rico amante. Quando ela lhe informa sobre seu encontro, o homem perde completamente o controle (sendo assistido por Reinhold, que se escondia na cama), espancando a mulher. A cena é trabalhada pelo diretor, para emular exatamente a cena do assassinato de Ida, desde a forma como o corpo da jovem é atirado ao chão até a escolha da iluminação, inclusive com a presença da senhora proprietária, que vigiava à distância. Interrompida por Reinhold, a violência conduz ao momento catártico onde Mieze explode em berros que vão gradativamente aumentando, até sua voz falhar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário