domingo, 18 de agosto de 2013

"Os Eternos Desconhecidos", de Mario Monicelli


Os Eternos Desconhecidos (I Soliti Ignoti – 1958)
“Roubar é uma profissão séria. Faz-se preciso pessoas sérias e comprometidas, não tipos como você. No máximo, você conseguiria trabalhar.”

O diretor italiano Mario Monicelli iniciou comandando comédias de Totó, trabalhando em conjunto com Stefano Vanzina, mas foi com “Os Eternos Desconhecidos” que seu nome realmente tornou-se respeitado além dos limites de seu país. Aproveitando-se do retumbante sucesso mundial do filme francês “Rififi”(dirigido por Jules Dassin em 1955, sobre uma arriscada tentativa de roubo, perpetrada por quatro gangsters, em uma joalheria), que anos depois também inspiraria “Onze Homens e um Segredo” (“Oceans Eleven”, de 1960, com Frank Sinatra, Dean Martin e Sammy Davis Jr.), o italiano reuniu Marcello Mastroianni, Vittorio Gassman, Renato Salvatori, Memmo Carotenuto, Tiberio Murgia e Carlo Pisacane, formando o grupo de ladrões menos competentes de sua região (um deles chega a se apaixonar por uma jovem que iria ser vítima de seus atos criminosos), liderados por Totó. A ideia em si não era completamente original, já que o diretor Alexander Mackendrick havia trabalhado conceito similar em seu “Quinteto da Morte” (The Ladykillers – 1955, com Peter Sellers e Alec Guinness), mas Monicelli ousou mais e entregou uma obra que, vista hoje, não se mostra datada. Além de tudo, ainda apresentou a beleza de Claudia Cardinale ao mundo. Precisa dizer mais?

A quantidade expressiva de gags visuais eficientes, como a breve cena em que um dos gangsters adentra uma casa de penhores, munindo uma pistola encoberta parcialmente por um jornal (não irei revelar o hilário desfecho), concedeu ao filme um apelo universal. O primeiro ato estabelece o ritmo com leveza e esporádico humor, podendo dar a impressão de que sua fama é pouco merecida, porém o roteiro encaminha de forma inteligente cada personagem ao seu destino nos hilariantes segundo e terceiro atos. Estruturalmente muitas comédias modernas buscam piadas em cada cena, pois o público-alvo hoje são os adolescentes imediatistas, o que acaba invariavelmente cansando o espectador ou esvaziando a obra como um todo (você ri o filme inteiro e esquece toda a trama dois minutos depois). As comédias clássicas normalmente visavam o público adulto, por esta razão administravam seu tempo com mais habilidade, assim como tocavam em temas que falavam diretamente às angustias dos adultos (como nesta obra, onde Monicelli critica a condição trabalhista da época na Itália). 

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