"Mea Culpa" é o
filme nacional que deveria (junto com tantos outros batalhadores, sem
incentivo) representar a real cara de nosso cinema, aquele que não nasceu em
"berço de ouro"...
Baseado em fatos, a trama inicia quando a matriarca de uma
família sofre um pequeno acidente que a faz relembrar um grande trauma que
mudou a sua vida e de suas filhas. Ela recorre então a uma jovem psicóloga, que
acaba envolvida de forma singular na história. Sem estragar a experiência
daqueles que não assistiram, posso dizer que a discussão que a obra suscita
após o poderoso desfecho, reverbera profundo em muitas de nossas verdades
absolutas. O quanto perdemos de nós, quando evitamos enxergar o óbvio? Existe
redenção, mesmo após o mais abrasivo crime cometido? Estamos preparados para
perdoar, inclusive a nós mesmos? O roteiro tem potencial emocional, mas acerta
ao evitar a pieguice ou o melodrama manipulativo. Até mesmo a utilização do flashback,
que é um arriscado campo minado, foi inserido de forma a evoluir a narrativa (não
explicá-la, como usualmente é feito). Uma poesia dura (excelente inclusão de
frases da Nélida Piñon, estabelecendo o tom de cada ato), que envolve o
espectador nos primeiros dois atos, surpreendendo-o em seu desfecho. A trilha
sonora utilizando inserções do leitmotiv (canção infantil "Nesta
Rua") nos momentos certos, sem nunca buscar emoções fáceis. E sendo
coerente ao aspecto minimalista do enfoque da trama, uma duração objetiva,
trabalhando o roteiro sem desnecessárias extensões (barrigas).
A produção foi feita sem nenhum patrocínio, não será
indicada pela protagonista da novela, mas é melhor que todos as últimas
produções da "Globo Filmes" de mãos dadas. O cinéfilo brasileiro
precisa conhecer esse filme (e tantos outros ótimos, que também não recebem a
justa atenção), para valorizar a batalha daqueles artistas que não se rendem às
limitações de uma nação culturalmente medíocre, que ao invés de lhes estender a
mão e protegê-los, ignora-os. Bravo!
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