quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Berlin Alexanderplatz - Capítulos 2 e 3


Capítulo 2 – Como Viver quando não Queremos Morrer?
O tema dominante do capítulo é como o ser humano resiste em ser engolfado em um ambiente onde a maldade predomina. A Alemanha pré-ascensão de Hitler, com um povo financeiramente destruído, aceitando humilhar-se em troca de algumas moedas. Franz representa este povo, como na cena em que permite que Lina tome decisões por ele, destruindo as revistas eróticas do jornaleiro. A maneira como a câmera o posiciona, quase como uma criança de castigo no canto do quarto, enquanto assiste sua mulher agir, denota o dedo de Fassbinder apontado para a passividade do povo alemão de outrora.

Emociona a determinação do protagonista em manter-se íntegro, recusando propostas de trabalho ilícitas e aceitando com humildade (e até ingenuidade) serviços onde depende exclusivamente da sorte. Quando aceita vender jornais de propaganda nazista, não entende o que está fazendo, recitando diálogos decorados sobre a ideologia por trás da suástica. Ele aceita carregar a marca nazista no braço, mas não sente seu peso moral, sente-se feliz por não estar roubando. A discussão que trava com um trio de comunistas e um vendedor de salsichas judeu, parte desta incompreensão. A melíflua narração em off, cita trechos retirados do livro de Alfred Döblin, que aliados ao propositalmente antinatural movimento de câmera (que pausa a cena e percorre-a em 360 graus), parece sublinhar a artificialidade do debate defendido apenas por vaga retórica. Ambos (comunistas e fascistas) apresentam discursos sem nenhuma pungência, como bonecos nos joelhos de ventríloquos que não ousam aparecer (uma realidade mundial ainda hoje na relação entre políticos e militantes).

Capítulo 3 – Uma Martelada na Cabeça pode Ferir a Alma
Franz continua buscando manter sua retidão de caráter, aceitando a ajuda de um amigo de Lina, começando a vender cadarços de porta em porta. O problema é que este amigo: Otto (Hark Bohm), não compartilha o senso moral de Franz (mesmo seguindo preceitos cristãos, como o roteiro salienta em sua cena de apresentação, quando Franz chega a imaginar-se parte daquelas belas frases lidas no jornal católico), aceitando ser engolfado na lama que o circunda. Em seu primeiro dia, o perseverante protagonista é atendido por uma bela viúva, que acaba utilizando-o para suprir sua carência emocional (o recente falecimento do marido e a crise financeira), recompensando-o financeiramente. Franz não questiona, pois ele não roubou aquele dinheiro, continuando firme em seu objetivo. Otto reconhece sua malícia nos olhos do colega e parte em direção à porta da viúva, expondo mais um dedo de Fassbinder em direção à hipocrisia nos religiosos. Ele recrimina-a com um discurso moralista, por sua aventura sexual, mas não vê problema algum em roubar seus poucos pertences de algum valor, enquanto agride-a verbalmente.

A decepção com Otto faz Franz questionar sua batalha interior por manter-se honesto, levando-o a um total desequilíbrio emocional. Ele rompe todos os laços com a humanidade, fugindo para dentro de si mesmo aos olhos de todos...

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