Eraserhead (1977)
Henry Spencer (Jack Nance) tenta sobreviver da indústria de
vírus, de sua raivosa namorada (Charlotte Stewart) e dos gritos de seu filho,
um bebê mutante. Eu poderia buscar explicar pretensos significados para cada
cena, mas acredito que a melhor forma de experimentar este filme é
entregando-se ao seu próprio caos, deixando-se ser dominado pelas imagens.
Entender que basicamente o roteiro reflete a crise existencial de um
adolescente que busca progredir em seu sonho profissional, mas se vê impedido
por uma inesperada gravidez de sua namorada. Lynch passava por este problema na
época em que iniciou os rascunhos (o roteiro completo tinha apenas vinte e uma páginas),
potencializando toda sua angústia em seu trabalho. Corajosamente
autobiográfico, o projeto incluía um bebê mutante (sua filha Jennifer Lynch
havia nascido com deformações nas mãos, o que o abalou psicologicamente), assim
como adultos afetados pela radioatividade. Ele simplesmente embala seus medos
em um envoltório onírico perturbador (com clara influência das pinturas do
irlandês Francis Bacon, que por sua vez, inspirou-se bastante em cenas de “O
Encouraçado Potemkin”, de Eisenstein), que parece querer deixar o espectador
tão desconfortável quanto seu próprio protagonista.
O exótico jantar na casa da namorada (o momento em que
simbolicamente ele será aceito na nova família), com o sogro direcionando-lhe o
sorriso mais antinatural possível (bizarro), enquanto sua sogra alterna frieza
com tentativas de seduzi-lo (questionando-o sobre sua relação sexual com sua
filha), retrata a perturbação psicológica de Henry. As imagens vão se tornando
cada vez menos realistas (chegando ao seu ápice com os “inesquecíveis” frangos),
ao passo em que o personagem vê-se mais indefeso perante aquele destino que lhe
é traçado. Quando a estranha mulher que mora no aquecedor aparecer cantando, o
espectador já estará irremediavelmente preso, assim como o protagonista. No
ápice deste caos visual, a cabeça do jovem é utilizada como matéria-prima para
a fabricação de borrachas (“Eraserhead”), simbolizando o desejo dele em apagar
seus medos, amadurecer sem dor. Um pesadelo Kafkiano daqueles que fazem você
acordar no meio da noite e buscar o interruptor.
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