Superman 3 (1983)
O quarto filme da série merece sua má fama (relevando a boa
intenção do roteiro baseado em ideia de Christopher Reeve), já que se trata de
uma colcha de retalhos terminada às pressas, com um corte absurdo de verba, que
obrigou o diretor a entregar ao público uma versão incompleta e por vezes,
incompreensível (se bem que a cena onde Mariel Hemingway respira em pleno
espaço sideral, não seria explicada nem se o filme durasse três horas!). Porém
o mesmo não se pode dizer de “Superman 3”, que foi uma tentativa dos produtores
de trazer o conceito idealizado pelo escritor Mario Puzo e pelo diretor Richard
Donner, mais próximo ao espírito dos quadrinhos do herói em sua divertida Era
de Prata.
O que muitos consideram um erro na escalação do elenco, eu
vejo como algo potencialmente interessante, mesmo não tendo sido aproveitado em
sua plenitude. Richard Pryor era o melhor comediante de sua época, mesmo que
passasse a maior parte do tempo recuperando-se dos abusos de drogas. Ele havia
dado uma entrevista no programa de Johnny Carson, onde celebrou a qualidade de
“Superman 2”, o que fez com que os produtores imediatamente retribuíssem a
gentileza. A verdade é que ele está muito bem no filme, conseguindo fazer
“milagre” com um material próprio para crianças (ele teve que conter toda sua
ironia verborrágica). Outro ponto que poucos valorizam é com relação ao tom do
filme. O primeiro havia sido épico, o segundo era uma fascinante aventura, já
com o terceiro podemos quase sentir o aroma do café da manhã de outrora, quando
corríamos para ler a seção de quadrinhos dos jornais matutinos. Tudo nele exala
ingenuidade, o que funciona na sequência em que o herói torna-se maligno. A
mesma situação se perderia nas obras anteriores, soaria falsa. Auxiliado por
uma impecável interpretação de Reeve, acreditamos em sua batalha interior (na
cena do duelo entre “Superman” e “Clark Kent”).
A escolha de utilizar como leitmotiv a volta do
herói às suas raízes em sua cidade natal, reencontrando seu amor de juventude:
Lana Lang (Annete O´Toole, que viria décadas depois a interpretar a mãe do
herói na série “Smallville”), minimizando a participação de Lois Lane (na
realidade foi um castigo dado à Margot Kidder, por ela ter sido ética,
considerando um desrespeito o que os produtores fizeram com Donner,
despedindo-o do filme anterior), funcionou a favor da trama. Reeve pôde
demonstrar melhor seu talento, aprimorando os maneirismos de seu “Clark” (inspirado
no personagem de Cary Grant em “Levada da Breca”, de Howard Hawks), provando
ser realmente o melhor intérprete do personagem até o momento. Robert Vaughn
interpreta um vilão que emula a insanidade ambiciosa de Lex Luthor, o que não
foi uma decisão muito criativa. Seu milionário Ross Webster, nunca chega a se
impor como alguma ameaça.
A direção de Richard Lester exagera em alguns momentos em
sua busca pelo viés cômico (não era necessário iniciar o filme com uma longa
sequência de humor físico, mesmo que ela funcione), mas ainda considero os
“prós” superiores aos “contras”. Não é superior aos dois primeiros filmes, mas
possui charme e diverte (elementos que não encontrei nos recentes “Capitão
América” e “Thor”).
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