Nessa breve introdução peço total suspensão da
descrença. Quero que, por alguns minutos, vocês se imaginem no distante ano de 1895.
Como o protagonista de “Meia Noite em Paris”, de Woody Allen, aceitem embarcar
no misterioso Rolls Royce e serem testemunhas oculares de uma das maiores
invenções da história da cultura mundial.
Eu desembarco do veículo em uma cidadezinha do sudeste da França, chamada La Ciotat, poucos dias após o Natal. Nas ruas, ainda se discute o recente assassinato do presidente Marie François Sadi Carnot, enquanto que no Cafe de La Paix (Grand Cafe), a sobremesa mais pedida era a deliciosa novidade que recebera o nome de Bûche de Noël, um rocambole a base de creme de manteiga. Sortudo, descubro ser um dos seletos vinte e três convidados a comparecerem ao grande evento da noite: um espetáculo único e inovador, comandado pelos irmãos Louis e Auguste Lumière. A exibição do misterioso cinematógrafo era motivo de discussão entre os convidados, que realizavam brincadeiras tentando descobrir o motivo de tanto segredo e expectativa. Minutos depois, todos são encaminhados para o Indian Lounge.
Eu desembarco do veículo em uma cidadezinha do sudeste da França, chamada La Ciotat, poucos dias após o Natal. Nas ruas, ainda se discute o recente assassinato do presidente Marie François Sadi Carnot, enquanto que no Cafe de La Paix (Grand Cafe), a sobremesa mais pedida era a deliciosa novidade que recebera o nome de Bûche de Noël, um rocambole a base de creme de manteiga. Sortudo, descubro ser um dos seletos vinte e três convidados a comparecerem ao grande evento da noite: um espetáculo único e inovador, comandado pelos irmãos Louis e Auguste Lumière. A exibição do misterioso cinematógrafo era motivo de discussão entre os convidados, que realizavam brincadeiras tentando descobrir o motivo de tanto segredo e expectativa. Minutos depois, todos são encaminhados para o Indian Lounge.
Sentado ao meu lado, um típico bonachão, por volta dos
trinta anos, cofiava sua barba e mantinha uma animada conversa com um senhor
que estava próximo. Como um cinéfilo apaixonado, já o havia reconhecido, porém,
obtive a confirmação de sua identidade quando o próprio me estendeu a mão e se
apresentou sorridente. George Méliès apertava minha mão e estendia
generosamente uma cigarreira de prata cinzelada. Após educadamente recusar,
percebi uma movimentação estranha no ambiente. Uma imagem estava sendo exibida
a poucos metros de distância dos presentes, que progressivamente se assustavam
ao descobrirem-na em movimento. Similar ao efeito que o 3D produz nos jovens de
hoje, aquela exibição simples do trem chegando à estação, assustou uma parcela
do público, que se levantava aos gritos. Parecia que a locomotiva iria rasgar a
projeção e invadir o local.
O evento foi um enorme sucesso. Méliès despediu-se de forma
cortês e continuou a gesticular eufórico para seu colega, enquanto alcançavam a
rua chuvosa. Ele dizia estupefato: “O velho Antoine (pai dos irmãos Lumière)
estava certo, quando afirmou que eu ficaria surpreso com o que veria essa
noite. Meus truques de ilusionismo não são nada perto disso!”. O som da
conversa vai ficando distante e logo se mistura ao barulho da chuva. Triste,
percebo à minha frente, estacionado, o Rolls Royce que me aguardava. George
Méliès ficou tão impressionado com aquele invento, que iria começar a criar experimentações
próprias, utilizando o cinematógrafo. Durante algum tempo, tentou comprar o
invento de Antoine, chegando a oferecer até dez mil francos. Seu amigo de longa
data o desencorajava, demonstrando não acreditar no futuro comercial do
equipamento. Irredutível em seu objetivo, o ilusionista francês acabou
fabricando seu próprio cinematógrafo e filmou seus primeiros experimentos.
Continua...
Nenhum comentário:
Postar um comentário