Fogo Alpino (Höhenfeuer – 1985)
O diretor Fredi M. Murer realizou com “Fogo Alpino” sua
primeira obra de ficção, após uma carreira como documentarista. Nota-se a
contribuição desta prática na habilidade invejável de compor belas imagens,
certamente o ponto alto do filme. Fica fácil perceber que o artesão possui
pouco domínio na construção de um roteiro que ligue uma bela cena à outra,
assim como a ausência de um necessário desapego artístico, fazendo com que a
obra se arraste sem necessidade, pois bastava uma edição mais precisa para que
a mesma “mensagem” fosse passada, com muito mais eficiência. Vale a pena abrir
um parêntese e explicar que existem filmes de três horas que se justificam
plenamente nas páginas do roteiro, mas existem também filmes de três horas que
são resultado de uma ineficiente edição. Não valorizem um filme apenas pela sua
metragem, pois existem obras-primas de setenta minutos e grandes bobagens
megalomaníacas de três horas. Fechado o parêntese, vale informar que “Fogo
Alpino” possui menos de duas horas, mas mesmo assim ele se arrasta bastante em
sua hora inicial. Claro que a recompensa vale o esforço, mesmo que você possa
nunca mais querer assistir um filme suíço na vida (o que seria uma pena).
A trama é simples e poderia ser contada sem diálogos (pois
os poucos que existem, não poderiam ser mais irrelevantes), acredito que teria
sido uma opção bastante interessante. Uma família vive isolada nos Alpes
Suíços, enfrentando diariamente as intempéries climáticas e o amadurecimento de
seu filho (Thomas Nock) mais jovem, que é surdo e muito ligado à sua bela irmã
mais velha: Belli (Johanna Lier), que age como uma mentora e apazigua-o nos
momentos caóticos. Quando os hormônios do jovem começam a se descontrolar, seus
pais decidem manter sua mente ocupada com trabalho, porém na solidão nevada da
noite, um sentimento proibido começa a unir os irmãos. O grande mérito da obra
é tratar de um tema muito difícil com impressionante sensibilidade, evitando no
público o estranhamento ou repúdio, mas sim causando uma sensação incrível de
que era a ação mais natural a ser tomada naquela situação. O diretor Fredi M.
Murer mantém a elegância do início ao surrealista fim.
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