007 Contra Goldeneye (Goldeneye, 1995 )
O produtor Albert Broccoli estava com sua saúde fragilizada
devido aos seus problemas cardíacos e viria a falecer sete meses após a estreia
deste filme, porém sua filha Barbara Broccoli não deixaria o legado
de sua família ser apagado. Ela mesma iria se encarregar de produzir a franquia
junto com Michael G. Wilson. Ambos contrataram para a direção um jovem
neozelandês que havia criado uma pequena gema no ano anterior: “Fuga de Absolom”
e que já havia dirigido muitas séries de TV: Martin Campbell. Para
substituir Timothy Dalton, lembraram-se do Irlandês Pierce Brosnan, que
já havia sido cotado para viver o agente no cinema quando Roger Moore deixou o
papel. Na época não pôde aceitar, pois estava filmando a série de TV: “Remington
Steele”. Uma decisão inusitada fez com que os produtores tomassem um novo rumo
quanto ao personagem M, superior direto de James Bond. Em 1992, Stella
Rimington tornou-se a chefe do MI5, logo, se na vida real uma mulher poderia
encabeçar esta organização, já era chegada a hora de se dar um passo mais
ousado na franquia. A inglesa Judi Dench foi escalada para trazer o
requinte necessário que o projeto necessitava. Pela primeira vez, James Bond
iria acatar as ordens de uma mulher no comando.
A trama não era baseada em nenhuma obra literária de Ian
Fleming, porém seu título “Goldeneye” era o nome da residência do autor na
Jamaica e o título da operação que o escritor criou na Segunda Guerra Mundial.
Com a queda do muro de Berlim em 1989 e a subsequente derrocada da União
Soviética, o mundo mudou drasticamente e o agente secreto romântico idealizado
pelo escritor teria que ser atualizado para este novo mundo globalizado. A frase
dita por M em uma das cenas mais lembradas, quando ela se refere ao espião como
uma “relíquia da Guerra Fria”, simboliza este compromisso de revitalização.
Levando-se em consideração que o objetivo deste filme era reinserir o
personagem neste novo mundo, o roteiro era o menor dos problemas.
James Bond é
acompanhado pelo seu colega 006: Alec Trevelyan (interpretado por Sean
Bean), em uma arriscada missão. Infiltram-se numa fábrica de armas químicas
soviéticas e são recepcionados pelo cruel General Ourumov (Gottfried John, de
“Berlin Alexanderplatz”). O herói escuta um tiro e percebe que seu amigo havia
sido assassinado. Ele então busca escapar do covil inimigo, o que dá início a
uma das sequências pré-créditos mais absurdas da franquia, fazendo até com que
os fãs da época considerassem o desfecho inacreditável demais. Esta sequência
já enunciava o que de pior haveria por vir na franquia: o uso excessivo de
computação gráfica. Uma das razões do sucesso de 007 é que os produtores sempre
utilizaram os melhores profissionais em suas áreas, inclusive os dublês. Sempre
era possível admirar estes profissionais arriscando-se para alcançarem a tomada
perfeita, tentando a superação a cada projeto. Apelar para as facilidades
tecnológicas talvez tenha sido o erro mais grave cometido neste período.
Roubando o filme da “Bond Girl”, interpretada pela bela
cantora polonesa Izabella Scorupco, a sensual Xênia Onatopp (Famke
Janssen), que como de costume, possui uma excentricidade: sádica, ela gosta de
torturar e matar seus oponentes por asfixia, enlaçando-os fortemente entre suas
pernas no ato do amor. A surpresa na trama não é tão inesperada e acredito que
nem tenha sido a intenção dos produtores fazê-la desta forma. A obra é
hermética e calculada, não havendo espaço para muitos riscos. Visto fora de
contexto, sem o embelezamento característico que a nostalgia causa, pode se
perceber que é um dos mais tolos filmes da franquia. No lugar do veterano Felix
Leiter, os produtores decidiram criar um novo personagem, porém com as mesmas
características, uma atitude desnecessária: o agente da CIA Jack Wade é
interpretado por Joe Don Baker, que já havia sido um vilão no filme “The
Living Daylights”. A escolha mais acertada na escalação foi o ator Robbie
Coltrane no papel do malandro gangster russo Valentin Zukovski. O ator
voltaria ao papel no terceiro filme com Brosnan, “The World is Not Enough”.
Dentre as cenas de ação, a mais impressionante é a sequência
de destruição criada por um tanque de guerra nas ruas de São Petersburgo. Após
o compositor John Barry recusar o pedido de Barbara Broccoli, o maestro Eric
Serra foi chamado para compor a trilha sonora do filme. Sua contribuição
foi um fracasso, enfraquecendo ainda mais o resultado final. A canção-tema foi
composta pelo cantor Bono e The Edge (U2). Tina Turner trouxe
charme e vigor à inspirada letra de “Goldeneye” e a música caiu no gosto do público
e dos fãs. A atuação de Pierce Brosnan foi elogiada pela crítica e pelo
público, porém não trouxe nenhuma novidade. O ator criou um amálgama de
qualidades evidenciadas em todos os intérpretes anteriores: o sarcasmo de
Connery, a truculência de Lazenby, o humor debochado de Moore e o “olhar
perigoso” de Dalton. Porém como em tudo na vida, quando se tenta realizar
muitas atividades diferentes conjuntas, nenhuma tende a ser evidenciada muito
bem.
O filme rendeu mais de 350 milhões de dólares e tornou-se a
maior bilheteria na saga desde “Moonraker” de 1979. Uma obra divertida, porém
com um roteiro mediano e cautela excessiva. Para se realizar um ótimo filme na
franquia se deve aceitar os riscos e ousar, como o próprio diretor Martin
Campbell provou anos depois.
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