007 – O Amanhã Nunca Morre (Tomorrow Never Dies, 1997)
O sucesso do filme anterior foi o suficiente para que a “Bond
Mania” novamente invadisse o mundo. Uma nova geração redescobria o agente
criado por Ian Fleming, os trintões que aguardavam com ansiedade o retorno do
personagem e os adolescentes, que vibravam com o jogo de videogame: “Goldeneye”.
A pressão era enorme e Barbara Broccoli teria que produzir este
empreendimento sem a cooperação do pai, que já havia falecido. O diretor
Martin Campbell se recusou a dirigir dois filmes seguidos de James Bond e o
cargo foi parar nas mãos equivocadas do canadense Roger Spottiswoode, da
fraca comédia “Pare, Senão Mamãe Atira”, um diretor sem expressão e pouca
personalidade. O título seria o primeiro na franquia a não ter nenhuma relação
com o trabalho literário de Fleming. O roteiro resultou de um brainstorming entre sete profissionais.
Na trama, um navio britânico é desviado para águas chinesas,
onde será afundado e seus marinheiros serão metralhados no mar. Em retaliação,
o Reino Unido inicia uma agressiva ação militar, que pode levar à eclosão da
Terceira Guerra Mundial. Tudo idealizado por um megalomaníaco “Cidadão Kane” da
imprensa marrom: Elliot Carver. Para o papel do magnata, após a recusa de
Anthony Hopkins, foi escalado o elogiado ator britânico Jonathan Pryce,
que referenciou em sua caracterização: William Randolph Hearst e Dr. No, o
primeiro vilão da franquia. A esposa de Carver, vivida por Teri Hatcher, que
colhia os frutos de seu trabalho como Lois Lane na série “Lois e Clark”, já
teve uma relação com James Bond e agora terá que se decidir em qual lado
ficar, arcando com as consequências dessa escolha. Muitos elementos desse filme
remetem ao sucesso: “O Espião que me Amava”, talvez o mais forte destes
refira-se a Bond Girl chinesa Wai Lin (Michelle Yeoh), sucessora de
uma rara exceção na franquia, até aquele momento, a agente soviética
interpretada por Barbara Bach no filme de 1977. A chinesa prova não precisar
ser salva pelo espião, demonstrando sua perícia em cenas muito bem
orquestradas. A veterana atriz Judi Dench retorna como a superiora de
007 e seus diálogos com o agente são um ponto alto do filme. Um exemplo é
quando responde secamente ao almirante Roebuck (Geoffrey Palmer), após o mesmo
duvidar de sua capacidade e firmeza no cargo: “pelo menos não corro o risco de
pensar com a cabeça errada”.
A cena de ação mais lembrada é a espetacular fuga do herói
em seu BMW 750, dentro de uma claustrofóbica garagem. A invenção de Q (Desmond
Llewelyn) é conduzida manualmente por um pequeno telefone celular, o que fará
com que o agente possa manobrar o automóvel deitado no banco de trás. Um
verdadeiro show de destruição, muito bem realizado pela equipe técnica. O
compositor John Barry em uma conversa com Barbara Broccoli indicou um jovem
talento que, em sua opinião, poderia elaborar uma trilha sonora à altura do
agente secreto mais famoso do cinema. O escolhido foi David Arnold que
misturou a “techno music” com a clássica sinfonia de Barry, criando uma trilha
moderna, com personalidade e estilo. Para escolher a música-tema, uma
competição foi feita e cerca de doze composições foram criadas, com
competidores como: Saint Etienne, Marc Almond, K.D. Lang e Sheryl Crow.
Seguindo a tendência criada no primeiro filme de Timothy Dalton, duas canções
seriam utilizadas, uma no início e outra nos créditos finais. A canção principal
escolhida foi a interpretada por Sheryl Crow, enquanto a talentosa K.D.
Lang esbanja refinamento vocal em sua interpretação de “Surrender”.
Particularmente considero esta canção muito superior.
O filme orçado em 110 milhões de dólares rendeu nas bilheterias
mundiais cerca de 335 milhões. Não superou a bilheteria de “Goldeneye”, mas
garantiu a longevidade da franquia. Pierce Brosnan supera seu
trabalho no filme anterior, demonstrando muito mais confiança e serenidade. A
recepção dos críticos foi boa, muitos elogios focaram-se na trama, abordando os
malefícios da imprensa, quando utilizada em mãos erradas. Um problema ainda
atual e bastante verdadeiro. O décimo oitavo filme da série é largamente
apoiado na ação e pirotecnia, o que afasta um pouco o tom de espionagem
inerente ao personagem criado por Fleming. Infelizmente este caminho assegurado
pelo sucesso deste projeto iria moldar o futuro incerto e desajeitado das
próximas duas aventuras de James Bond no cinema.
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