Falcão – O Campeão dos Campeões (Over The Top – 1987)
Lembro como se fosse hoje, mas foi no final de 1990 (eu
tinha sete anos). Era uma Quarta-Feira (no dia anterior havia passado “Falcão”
na “Sessão da Tarde”) nublada em que tive muita dificuldade para me levantar da
cama, colocar meu uniforme, mochila e ir para a escola. Nunca fui popular na
classe, o que invariavelmente era um convite à delinquência infantil, por parte
de alguns colegas. Mas naquele dia eu estava preparado! Até um boné (que nunca
cheguei de fato a usar em outra ocasião) eu havia levado. Após aqueles dez
minutos iniciais de provocações do tipo: “magrelo, quatro-olhos, narigudo”,
respirei fundo (em minha mente tocava toda a trilha sonora do filme assistido
no dia anterior) e desafiei o “chefe da matilha” (sempre era o mesmo, que hoje
deve estar atrás das grades ou entrado para a política) para uma “queda de
braço”, que obviamente se daria ao final das aulas daquele dia, por volta da
hora do almoço. Como Will Kane em seu “High Noon” ou Jerry Mitchell em “Te Pego
Lá Fora” (que também será tema nesta seção), mal conseguia me concentrar no que
os professores diziam, pois estava completamente apavorado.
Sentado na segunda fileira, olhava para trás e percebia o
olhar ameaçador do meu oponente, que assim como “Bob Hurley” ansiava me
humilhar perante toda a classe (especificamente uns dois ou três que notavam
minha presença, pois para a maioria aquela era apenas mais uma Quarta-Feira). O
alarme soou e levantei-me corajoso, já com o boné na cabeça e tendo minha
confiança progressivamente elevada, já que a menina que eu gostava demonstrava
alguma preocupação com o que iria ocorrer em instantes. A disputa foi justa,
como se houvesse sido realizada na “Rua Paulo” (de Ferenc Molnar), com direito
a torcida e batuques nas mesas. Olhamo-nos olhos nos olhos, instintivamente
virei meu boné (o que inspirou certa agitação na minha humilde, porém corajosa
torcida) e com “Meet me Half Way” tocando alto em minha mente, senti uma forte
dor no braço, enquanto o dorso da minha mão rumava ao toque mortal da gelada
madeira da mesa. Eu percebi então que meu oponente não tinha assistido
“Falcão”, pois não percebeu o meu truque.
Assim como o Stallone havia me
ensinado, pressionei os seus dedos o máximo que consegui, girando minha
mão por cima da dele, levando o seu pulso a curvar-se para trás. Com uma força
que até hoje não sei de onde tirei, venci o combate. Durante algum tempo fiquei
livre das provocações e pude curtir meus momentos de “herói da semana”. O
“magrinho quatro-olhos” havia conquistado uma bela vitória, graças a “Lincoln
Falcão”, a magia do cinema e a inspiração que dele nasce.
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