Loverboy - Garoto de Programa (Loverboy - 1989)
Randy Bodek (Patrick Dempsey) não tem ideia de como lidar
com as mulheres. Mas ele certamente deseja aprender. O jovem conseguiu um
emprego como entregador de pizza, mas ele acaba se tornando também fornecedor
para as necessidades amorosas das belas e frustradas mulheres da cidade. Para a
surpresa de seus pais frustrados (Kate Jackson e Robert Ginty), de repente
Randy se torna o homem que todas as mulheres desejam. E o que essas mulheres
desejam é mais do que uma simples pizza com anchovas.
Este filme costumava passar nas sessões noturnas dominicais
do SBT (a "Sessão das Dez"), o que era uma garantia de que eu iria
chegar atrasado à aula no dia seguinte. Depois ele começou a passar também à
tarde no "Cinema em Casa", numa época em que o maldito
"politicamente correto" ainda não comandava as transmissões
televisivas. Dempsey já é mostrado de início como alguém em busca de uma
identidade, uma voz própria. Seu estilo (o estereotipado "rebelde")
não parece refletir sua índole, denotando ser uma forma de se defender. Assim
como seu personagem em "Namorada de Aluguel" (que também será tema
neste especial), Bodek passa a ser vítima de bullying e não sabe como lidar com
as garotas. Começa então a trabalhar como entregador em uma exótica pizzaria,
que o obriga a usar um vergonhoso bigode e um chapelão, dificultando ainda mais
o despertar de sua autoconfiança. Tudo muda quando a bela Barbara Carrera (e
sua inesquecível camisola lilás, numa cena emoldurada pela canção
"Walkin´the Line", de Brian Wilson) atravessa seu caminho, como uma
sofisticada e bem sucedida mulher mais experiente, que se encanta com a coragem
do garoto e indica seus "serviços" para as amigas.
Carrie Fisher (a
eterna "Princesa Leia", de "Star Wars") e Kirstie Alley (de
"Olha Quem Está Falando") são algumas das clientes do jovem, que
percebe estar sendo requerido quando ligam para a pizzaria pedindo pizzas com
muitas anchovas. O estoque destes clupeiformes começa a não ser suficiente para
satisfazer o número de pedidos, enquanto o humor vai se intensificando no
segundo ato. No dia seguinte à exibição do filme, todos os garotos da classe
utilizavam a expressão: "com muitas anchovas", para qualquer
brincadeira na hora do recreio. Não havia maldade alguma, apenas o desejo de
extravasar a necessidade de sermos identificáveis naquele contexto
cinematográfico. Infelizmente a juventude hoje busca identificação em ídolos de
condutas questionáveis e obras sem nenhum valor, mas houve uma época em que
garotos queriam formar seu próprio grupo aventureiro "Goonies" ou
apenas entregar pizzas com anchovas para as professoras mais bonitas da classe.
Vale ressaltar a excelente dublagem conduzida pelos estúdios
"Herbert Richers", com Manolo Rey (Dempsey), Monica Rossi (Kirstie
Alley) e Vera Miranda (Carrie Fisher), entre outros. Numa sacada espirituosa na
versão brasileira, um detalhe que hoje soaria politicamente incorreto, mas que
funcionava na cena, tornando-a melhor que no original: o pai do protagonista
acredita que seu filho é homossexual, por vê-lo sempre fora de casa e atendendo
misteriosos telefonemas. O pai frustrado adentra sua casa e, logo depois de
dizer (no original): "honey, i´m home" (numa adaptação livre:
"querida, cheguei"), seu filho atravessa feliz e dançando em sua
frente (havia acabado de se encontrar com mais uma cliente). No original, ele
simplesmente prossegue tentando chamar a atenção do filho, que o ignora. Já na
excelente adaptação brasileira, o dublador Márcio Simões entrega um sutil:
"querida, cheguei... (e quando o filho atravessa dançando seu caminho)
falando em gay". São por improvisos como estes que nossa dublagem é
reconhecida mundialmente por sua excelência.
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