007 – Marcado Para a Morte (The Living Daylights, 1987)
Após a saída de Roger Moore, os produtores não sabiam que
rumo tomar para continuar a franquia. Inicialmente tentariam realizar uma
história de origem, esquecendo os filmes anteriores e focando-se nos primeiros
anos de James Bond no MI6. Com o tempo perceberam que seria uma arriscada
decisão e preferiram manter o estilo, porém saberiam que teriam que injetar
sangue novo e uma nova conduta na produção. O primeiro passo foi selecionar um
novo intérprete para 007. Dentre os atores testados estavam Sam Neill e Pierce
Brosnan. O segundo chegou a aparecer em fotos de divulgação, mas na última hora
não pôde assinar o contrato, já que estava preso por contrato à série
“Remington Steele”. O destino viria a lhe dar uma segunda chance em breve. Os
produtores voltaram então suas atenções para o ator galês de formação
shakesperiana:Timothy Dalton. Sua disciplina e dedicação o levaram a ler todos
os livros de Ian Fleming, recriando com perfeição o agente imaginado pelo
autor. Sua atuação trouxe densidade e humanidade ao personagem, que naquele
momento era considerado uma caricatura pelo público, o que elevou a franquia a
um novo patamar. Os responsáveis pelo marketing do filme aproveitaram a
oportunidade e utilizaram o slogan: “Dalton é Perigoso” (Dalton is Danger) em
vários trailers.
Na trama, o espião é encarregado de dar cobertura a um alto
oficial da KGB, Georgi Koskov (interpretado por Jeroen Krabbé), que planeja
fugir para a Inglaterra durante um concerto. A Bond Girl desta nova
abordagem é vivida por Maryam D’Abo. Kara Milovy é uma frágil violinista,
utilizada como peão em um tabuleiro organizado pela organização SMERSH (“Smiert
Spionam”, que significa “Morte aos Espiões”), um grupo comandado pelo general
Leonid Pushkin (John Rhys-Davies). Além de Koskov e Pushkin, o filme conta ainda
com mais dois vilões: Brad Whitaker (Joe Don Baker), fanático por recriações de
batalhas históricas e o frio assassino mudo, como de costume, Necros,
interpretado por Andreas Wisniewski. Sua característica: eliminar suas
vítimas ouvindo a mesma música (“Where has Everybody Gone?”, cantada por
Chrissie Hynde) em um walkman. Diferente dos projetos dos anos sessenta e
setenta, o vilão não era tão distinguível, pois ninguém era incorruptível. O
problema é que com a quantidade de antagonistas apresentados, o roteiro não se
foca em nenhum, apresentando um borrão pouco expressivo.
A produção traz também uma revitalizada, não tão carismática, Moneypenny, interpretada agora por Caroline Bliss, que se manteve no papel
no filme seguinte. Outro elemento icônico que retorna às telas é o famoso
automóvel Aston Martin. A fuga espetacular que ele proporciona neste filme
sempre é lembrada entre as melhores cenas da franquia. Comprovando a intenção
de recomeço, que seria resgatado em “Cassino Royale”, de forma mais eficiente, proposta pelos produtores, outro personagem importante foi resgatado do limbo
cinematográfico: Felix Leiter, interpretado desta vez pelo inexpressivo John
Terry. O agente da CIA que sempre ajuda 007 esteve em cinco filmes: “Dr. No”,
“Goldfinger”, “Thunderball”, “Diamonds are Forever” e “Live and Let Die”. Seu
retorno após quatorze anos era mais que bem-vindo. Sua importância é latente na
próxima produção, onde seu destino é a força motriz que conduz toda a trama. O
talentoso diretor John Glen teve com este projeto mais uma
oportunidade de injetar sua criatividade nas cenas de ação, sua especialidade.
Nada que já havia sido feito se compara ao delírio visual da sequência de
batalha aérea entre Bond e Necros. A cena onde os dois ficam pendurados na
carga transportada por um velho avião, continua tão eficiente hoje quanto na
época em que foi realizada.
O compositor John Barry fez sua última aparição na
franquia em uma trilha muito criativa. Pela primeira vez, sequências
eletrônicas haviam sido combinadas com a orquestra, um processo inovador para a
época. Acompanhando a tendência criada pelo filme antecessor, o grupo pop
norueguês A-HA teve a responsabilidade de gravar a música-tema. Outra
inovação na franquia, a inclusão de uma segunda canção-tema, que seria
utilizada nos créditos finais: “If There was a Man”, cantada por Chrissie
Hynde. Esta tradição seria levada adiante nos filmes subsequentes. O filme
foi recebido com aplausos pela crítica e público, evidenciando um audacioso
herói para um novo mundo em tons de cinza, um lugar onde os vilões não estavam
tão visíveis e onde só haveria lugar para um agente secreto frio e calculista.
Dalton interpretou fielmente o agente criado por Ian Fleming, uma mudança
brusca para os que haviam se acostumado ao humor simpático de Roger Moore.
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