007 – Somente para Seus Olhos (For Your Eyes Only, 1981)
O filme anterior havia ajudado a transformar o agente
secreto em um super-herói espacial. Mesmo tendo sido um sucesso de público, o
produtor Albert Broccoli sentiu que precisava retornar às raízes, encontrar-se
novamente com o personagem idealizado por Ian Fleming. O primeiro passo
dado foi a importante escolha de quem iria comandar o novo filme, quem seria o
responsável por dar o novo tom a ser utilizado nos próximos projetos.
Acertadamente decidiram-se por John Glen, um experiente editor de filmes
de ação, que havia dirigido magistralmente a sequência da perseguição de trenós
do filme de 1969: “A Serviço Secreto de sua Majestade”. O diretor foi o
responsável por incutir na série um tom mais ameaçador, com cenas de ação de
tirar o fôlego.
O roteiro criado por Richard Maibaum seria uma
colcha de retalhos, incluindo trechos da antologia de contos original: “For
Your Eyes Only”, “Risico” e de “Live and Let Die”. Na trama, um navio espião
inglês dotado de um poderoso dispositivo secreto, o A.T.A.C., capaz de orientar
o lançamento de mísseis nucleares da frota de submarinos britânicos é
misteriosamente atacado e vai parar no fundo do mar Jônico, na costa da
Albânia. O governo britânico pede ajuda a um renomado arqueólogo grego no
intuito de encontrar o dispositivo antes que ele caia em mãos erradas. Porém,
em um ataque terrorista, o arqueólogo é assassinado junto com sua esposa. Sua
filha, Melina Havelock (interpretada pela linda modelo francesa Carole
Bouquet) decide se vingar dos responsáveis pelo ato sórdido. Seu caminho irá se
cruzar com o de James Bond, que havia sido enviado para resgatar o dispositivo.
Além do auxílio de Melina, o herói ainda contará com o reforço do
contrabandista grego Milos Columbo, vivido por Chaim Topol. O vilão desta
vez é inescrupuloso, mas bastante diferente dos que costumam aparecer na
franquia, pois age por trás dos panos. O contrabandista e traficante de armas e
drogas Aris Kristatos (Julian Glover) se esconde atrás de
seus dois comparsas Locque (Michael Gothard) e Kriegler (John Wyman).
Roger Moore já com cinquenta e três anos de idade,
sentia-se um pouco constrangido por conquistar somente com o olhar e poucas
insinuações, mulheres trinta anos mais novas. A solução encontrada pelos
roteiristas foi trazer soluções cômicas para algumas cenas, como quando a jovem
patinadora protegida de Kristatos: Bibi (Lynn-Holly
Johnson) tenta seduzir o agente, desnudando-se e deitando-se em sua cama.
Estupefato, o espião pede que a jovem se vista, pois ele irá lhe comprar um
sorvete. Com a clara intenção de trazer de volta elementos dos filmes
antigos, o produtor inseriu logo na sequência pré-títulos uma cena onde o herói
visita o túmulo de sua esposa Teresa, que havia sido assassinada por Blofeld na
produção “A Serviço Secreto de sua Majestade”, doze anos antes. Logo em
seguida, uma versão propositalmente caricata do vilão em sua cadeira de rodas
irá perseguir 007, sendo jogado em seguida de um helicóptero numa chaminé para
a morte certa. A breve sequência, que inclui até mesmo uma mensagem cifrada,
dita pelo vilão pouco antes de falecer, foi a maneira que o produtor encontrou
para afirmar que o sucesso da série não dependia de seu rival Kevin McClory,
que após os problemas judiciais ocorridos na produção do filme “Thunderball”,
tornou-se proprietário dos direitos de imagem do vilão Ernst Stavro Blofeld e
da organização S.P.E.C.T.R.E. Claro que o revide viria pouco tempo depois, na
forma da refilmagem não-oficial “007 – Nunca Mais Outra Vez”, mas isso é tema
para o próximo texto.
A trilha sonora ficou a cargo do compositor Bill Conti,
tendo sua bela música-tema sido cantada por Sheena Easton. A beleza da
cantora encantou Maurice Binder, que a inseriu, pela única vez na história
da série, na sequência de créditos iniciais. O filme rendeu 195 milhões de
dólares no mundo todo e é um dos melhores da franquia. Méritos para o diretor
John Glen, que conseguiu trazer um pouco mais de seriedade à versão do agente
interpretado por Roger Moore, fazendo-o tomar parte em cenas brutais, como a do
carro do vilão Locque no desfiladeiro, onde um chute certeiro de 007 foi o
suficiente para que o automóvel caísse penhasco abaixo. Moore não queria gravar
a cena, pois ia contra sua abordagem, porém Glen o confrontou e o persuadiu,
garantindo com sua coragem e competência o comando das próximas quatro
produções da franquia. Porém, um concorrente estava à espreita...
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