007 – Nunca Mais Outra Vez (Never Say Never Again, 1983)
Era chegado o momento de Roger Moore passar por
seu teste de fogo, pois Kevin McClory decidiu refazer a história de “Thunderball”
no cinema. Personagens como Blofeld e a SPECTRE voltariam na produção,
porém várias marcas registradas da série não poderiam ser utilizadas, como a
música-tema do personagem, o cano da arma na abertura e o crédito inicial
musicado por Maurice Binder. O filme seria um filho bastardo não produzido
pela EON, empresa de Albert Broccoli, porém um elemento foi
responsável por um compreensível temor dos detentores da série oficial: o
aguardado retorno às telas de Sean Connery como o espião. Após doze
anos, ele retornaria ao papel que ajudou a criar, esbanjando carisma e com
muito mais paixão que em 1971, quando se despedia sem muito entusiasmo em “Diamonds
are Forever”.
A trama era basicamente a mesma do filme de 1965: duas
bombas nucleares são sequestradas pela organização de Blofeld, que ameaça provocar
um acidente atômico se não houver o pagamento do resgate. Para o papel do
vilão foi chamado o lendário ator sueco Max Von Sydow. Interpretando o
personagem Maximilliam Largo, que antes fora de Adolfo Celi, um muito menos
expressivo Klaus Maria Brandauer. No papel da Bond Girl Domino,
uma estreante Kim Basinger no auge de sua beleza. Antecipando uma
decisão futura, os produtores optaram por um Felix Leiter negro, interpretado
por Bernie Casey. No recente reboot “Cassino Royale” o mesmo ocorreu,
seria uma coincidência? A atriz Barbara Carrera foi indicada ao Globo
de Ouro por sua atuação como a vilã fria e calculista Fatima Blush. Talvez
a decisão mais estranha tomada pela produção tenha sido a inclusão de Rowan
Atkinson (o “Mr. Bean”) na trama, como o desastrado agente Nigel
Small-Fawcett, um alívio cômico desnecessário. Complementando a requintada
produção, sua trilha sonora foi composta pelo músico francês Michel
Legrand. A fraca música-tema cantada por Leni Hall.
A intenção de McClory era clara: produzir um filme muito
superior aos que estavam sendo feitos com Roger Moore. As refinadas, não tão
adequadas, escolhas de elenco e de diretor comprovam este fato. O competente Irvin
Kershner, de “O Império Contra-Ataca”, conduziu o filme de maneira
correta, mas a primeira escolha de McClory havia sido Richard Donner, que
declinou da decisão tempos antes do início da produção. O título do filme
nasceu de uma brincadeira que a esposa de Connery lhe fez, quando o mesmo
aceitou interpretar James Bond pela sétima vez. Ela lhe disse: “Jamais diga
nunca novamente” (Never say Never Again). McClory não pretendia iniciar uma
franquia, prova disso foi o final utilizado na produção, onde o herói
intenciona se aposentar do serviço secreto e ficar ao lado de seu novo amor.
Guardadas as devidas proporções, “Nunca Mais Outra Vez” é um
bom filme de ação e torna-se memorável devido à elogiada atuação do fleumático
protagonista. Elogios estes que deixaram Roger Moore enciumado, pois em uma
entrevista da época, Moore, que estava filmando “Octopussy”, chegou a dizer: “Não
acho que Connery devesse ter feito esse filme. O resultado é pouco mais que
desconcertante”. O fato é que Connery realizou um milagre: tornou interessante
um filme de Bond, sem os tradicionais e icônicos elementos que fizeram de 007
um fenômeno cinematográfico.
007 Contra Octopussy (Octopussy, 1983)
Os produtores Albert Broccoli e Michael G.
Wilson sentiram o impacto do retorno de Sean Connery e viram que
não poderiam se acomodar, correndo para finalizar “Octopussy” e fazê-lo o
melhor que podiam. O orçamento destinado à produção do filme foi de
aproximadamente 110 milhões de dólares e isto fica evidenciado em cada frame da
megaprodução. O roteiro foi retirado de um conto homônimo de Ian
Fleminglançado em 1966 e a direção ficou a cargo novamente do talentoso John
Glen.
Contrastando com o tom sério do filme anterior da franquia
oficial, “Octopussy” desfila cor e vibração, o exotismo das locações na Índia
em muito cooperaram com o clima da aventura. Na trama, 007 persegue um exilado
príncipe afegão: Kamal Khan, vivido elegantemente por Louis Jordan, e sua
associada, a enigmática contrabandista de joias: Octopussy (Maud Adams em
seu segundo papel na franquia). Roger Moore iria se aposentar do
papel após “For Your Eyes Only”, levando os produtores a procurarem um novo
ator. Dentre os que fizeram testes para o papel estavam James Brolin e Timothy
Dalton, porém ao saber que Connery iria participar do projeto “Never Say Never
Again”, o orgulho de Moore falou mais alto e ele aceitou dar continuidade à
série e provar-se merecedor do papel. O personagem Q (Desmond Llewelyn) também
viria a ter uma maior participação nesta produção, entregando a Bond sua gadget mais
espirituosa: um minissubmarino em forma de jacaré que entrou para a galeria das
mais famosas bugigangas já criadas para o agente. Dentre as cenas de ação, vale
salientar a longa batalha no trem, onde o espião enfrenta os gêmeos atiradores
de facas, muito bem editada por Bob Simmons. A trilha sonora foi composta
por um inspirado John Barry. A canção “All Time High”, cantada por Rita
Coolidge ficou entre as quarenta mais tocadas nas paradas
norte-americanas. Foi a segunda vez que a canção principal não foi tirada do
tema do filme, sendo a primeira delas “Nobody does it Better”, do filme “The
Spy who Loved Me”.
A sequência final do filme, onde o espião se disfarça de
palhaço para entrar no circo de Octopussy e desbaratar a ação criminosa, foi
duramente criticada na época, assim como a fuga na selva ao som do famoso grito
de Tarzan, aliado ao fato de Moore já aparentar a idade avançada. Os fãs não
prestaram atenção aos críticos e compareceram em massa na estreia. O filme
rendeu mais que “For Your Eyes Only” e “Never Say Never Again”, portanto, na
batalha dos lucros, Roger Moore saiu vitorioso de sua prova de fogo. Entre
mortos e feridos, no ano de 1983, quem saiu ganhando mesmo foi o público, que
teve à sua disposição dois atores formidáveis dando tudo de si em filmes muito
bons.
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