007 – O Espião que me Amava (The Spy Who Loved Me, 1977)
Antes do início da produção do décimo filme da franquia, uma
ruptura chamou a atenção da mídia e adiou a preparação das filmagens: o
produtor Harry Saltzman, passando por uma grave crise financeira, viu-se
forçado a vender a sua parte para o estúdio United Artists. Albert
Broccoli iria carregar sozinho e nas costas esse e os futuros projetos. Com o
atraso na produção, o diretor Guy Hamilton foi forçado a deixar o cargo
para Lewis Gilbert (de “Com 007, Só se Vive Duas Vezes” - 1967).
Broccoli sabia que precisaria de um esforço extra para que este filme fosse tão
bom quanto os fãs mereciam, satisfazendo todas as elevadas expectativas. O
primeiro passo foi priorizar uma extraordinária sequência pré-títulos. Nela, o
agente 007 saltaria de um precipício após descer esquiando um desfiladeiro de
neve, abrindo seu paraquedas com a imagem da bandeira da Inglaterra alguns
segundos depois, sendo levado gentilmente ao chão nos braços do patriotismo
britânico. A difícil cena realizada pelo dublê Rick Sylvester, que
quase morreu nesse processo, foi mais do que eficiente para a trama, marcou uma
época e simboliza até hoje o escapismo da série.
O roteiro do filme, escrito por Richard Maibaum,
abordava um megalomaníaco intelectual chamado Carl Stromberg, vivido pelo
alemão Curt Jurgens, que intencionava destruir o mundo, criando uma nova
sociedade submarina. Seu auxiliar Jaws (no Brasil, ficou conhecido como “Dentes
de Aço”), uma homenagem ao tubarão do filme de Spielberg, consegue eliminar com
vorazes mordidas qualquer um que cruzar seu caminho. Para o papel do famoso e,
até então, mudo personagem, foi chamado o ator Richard Kiel, que com seus
quase dois metros e vinte de altura evidencia novamente a tentativa dos
produtores de aproximarem-se do burlesco, no anterior, um anão ameaçava a
integridade física do herói, favorecendo imageticamente os extremos. O sucesso
do personagem foi tão avassalador, que o estúdio foi obrigado a tê-lo de volta
no filme posterior: “Moonraker”.
Pela primeira vez na franquia, James Bond iria ser
acompanhado de uma Bond Girl tão inteligente quanto ele, um reflexo
do crescente movimento feminista pelo mundo. A agente secreta da KGB Anya
Amasova, também conhecida como Triplo-X, foi interpretada pela bela atriz
nova-iorquina Barbara Bach, que foi escolhida por Broccoli ao fazer um
teste, totalmente desnuda, para um filme italiano. Ela sabe que o espião foi o
responsável pela morte de seu namorado, um sósia de George Lazenby,
demonstrando a revanche moral dos produtores, jurando assim vingar-se de 007
ao final da missão. O duelo psicológico pleno em sedução entre os dois agentes
mostra-se uma bem-vinda novidade no caminho da série. O filme inovou
também com uma ótima gadget, a Wet Bike, um projeto do que viria a
ser o atual Jet Ski.
Como se já não fosse suficiente, o filme contém uma cena
histórica e eterna no cânone: o mergulho submarino do carro Lótus Esprit.
Após uma perseguição dramática envolvendo motocicletas e helicópteros, o espião
leva seu automóvel para o fundo do mar, surpreendendo seus inimigos ao se
transformar em um submarino. O forte impacto que esta cena teve na época,
elevou ainda mais o padrão de excelência para os próximos projetos, que
acabariam tornando-se durante um breve período um show onde se priorizava o
espetáculo, acrobacias cada vez mais ousadas, mesmo que visualmente pouco
eficientes, deixando o roteiro um pouco de lado. Celebrando o décimo filme da
lucrativa franquia, determinou-se que havia chegado a hora de uma canção que
falasse, não dos vilões ou da trama, mas sim do próprio protagonista. Marvin
Hamlish, compositor deste projeto, criou então a canção “Nobody Does it Better”
(Ninguém Faz Melhor), interpretada com emoção por Carly Simon.
O filme custou treze milhões de dólares e lucrou quase
quinze vezes mais no mundo todo. O ápice do reinado de Roger Moore e, sem dúvida, uma das melhores incursões na franquia.
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