007 – A Serviço Secreto de sua Majestade (On Her Majesty´s
Secret Service, 1969)
Desde o lançamento da última aventura da franquia nos
cinemas, muita coisa havia mudado no mundo. O sonho americano morria com John
F. Kennedy e Martin Luther King, assim como a guerra no Vietnã corrompia a
inocência da juventude. O maior espião do mundo havia se tornado motivo de
piada, consumada na realização do filme “Cassino Royale” em 1967, uma sátira
burlesca e equivocada com um grande elenco, incluindo Peter Sellers e Woody
Allen, com a participação do lendário John Huston na direção.
Os produtores Harry Saltzman e Albert Broccoli perceberam
que era chegada a hora do conceito ser reinventado no cinema, adaptado para
este novo público que idolatrava a súbita onda de anti-heróis que a indústria
injetava nas telas. Com a recusa de Sean Connery em repetir seu personagem,
começou a caça por alguém que aceitasse a enorme responsabilidade, arriscando
colocar em jogo um projeto extremamente lucrativo. O primeiro passo, a ousada
decisão do talentoso editor Peter Hunt, em assumir a direção deste
projeto. Ele havia escolhido filmar “A Serviço Secreto de Sua Majestade” com
uma narrativa fiel ao livro de Ian Fleming (este acabou sendo o último projeto
a ter esta preocupação), que já havia quase saído do papel anos antes. Hunt
também foi o responsável pela escolha de George Lazenby para o papel
principal, um vendedor de automóveis e modelo australiano que nunca havia
atuado em sua vida. Após um teste de cena com a atriz Diana Rigg, ele foi
oficializado na produção. Ela tornou-se a Bond Girl Tracy (Teresa di
Vicenzo), que entrou para a história da franquia por ser a única a levar o
mulherengo agente ao altar. O vilão também deveria mudar de atitude, o
caricato Blofeld de Donald Pleasence não assustaria tanto quanto as
chacinas vietnamitas tão viabilizadas na época, portanto um novo ator foi
escolhido para dar um tom mais ameaçador e realista ao personagem: Telly
Savalas. Para o papel de sua cruel aliada Irma Bunt, foi escolhida Ilse
Steppat.
Na trama, James Bond é enviado disfarçado ao encontro de
Blofeld nos Alpes Suíços, onde o vilão pretende provar que é um conde legítimo,
devido a sua herança sanguínea, enquanto hipnotiza jovens garotas, treinando-as
para serem seus “anjos da morte” e disseminar pelo planeta um vírus capaz de
esterilizar todos os seres vivos. Nesta missão, Bond recebe a ajuda de um chefe
mafioso chamado Marc-Ange Draco (vivido por Gabriele Ferzetti) e de sua filha
Tracy, uma condessa rebelde por quem logo irá se apaixonar. Ao longo das
filmagens, Lazenby mostrou-se um homem arrogante e indócil, causando
desentendimentos com os produtores e com Diana Rigg. Ele questionava a importância
de seu personagem em um mundo tão cruel, onde não haveria espaço para o
conceito ingênuo de um espião secreto que todos conhecem pelo nome. Antes do
término das filmagens o imaturo ator descartou um contrato para sete filmes,
fato que levou os produtores a iniciarem uma nova procura por possíveis atores
para o personagem. A mágoa da equipe se mostraria presente oito anos depois, no
filme “007 – O Espião que Me Amava”, quando contrataram um figurante idêntico
ao ator, somente para fazê-lo morrer pelas mãos do protagonista da época, o já
então consagrado (na franquia) Roger Moore.
Independente dos problemas que causou e de sua equivocada
atitude, eu ainda considero sua atuação coerente com o que o roteiro pedia. Ele
interpretou um herói diferente do vivido por Connery, um homem sensível, que
chora o trágico assassinato da mulher amada na cena mais impactante do filme.
Suas cenas de batalha corporal ainda estão entre as melhores da série, podendo
ser comparadas às demonstradas por Daniel Craig nos filmes mais recentes.
Lazenby não fez nenhuma obra importante no cinema após este projeto e já mais
velho, interpretou um coadjuvante em filmes eróticos da série francesa: “Emmanuelle”,
protagonizados por Sylvia Kristel.
O ponto forte do filme foi a magistralmente editada
perseguição na neve, com a equipe de esquiadores profissionais liderados
por Willy Bogner, realizando feitos esteticamente belos e que se tornaram
um símbolo da franquia. “007 – A Serviço Secreto de sua Majestade” é um filme
formidável, desde sua sequência inicial musicada por John Barry, que
espertamente remete aos filmes anteriores, passando pela bela montagem
romântica ao som de “We Have All the Time in the World”, última canção gravada
por Louis Armstrong, até seu desfecho surpreendentemente triste. Peter Hunt em
sua única participação na cadeira de diretor realiza uma obra pungente e
apaixonada, que merece obter um melhor lugar no coração dos fãs da série. Ao
estrear, obteve um faturamento inferior ao filme anterior, o que levou os
produtores a tentarem desesperadamente fazer com que Connery retornasse pelo
menos uma última vez...
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