A
Espada da Vingança (Ko Wo Kashi ude Kashi Tsukamatsuru - 1972)
O
Andarilho do Rio Sanzu (Sanzu no Kawa no Ubaguruma - 1972)
O protagonista é apresentado
ao espectador como um homem capaz de decapitar uma criança, no cumprimento de
seu dever como o kaishakunin (executor), única autoridade com
permissão para matar um senhor feudal. Itto Ogami (Tomisaburo Wakayama) não é
somente um exímio espadachim, mas também um mestre estrategista. Como todo
aquele que se destaca por competência, acabou virando alvo dos medíocres, que
plantaram uma farsa e fizeram-no ser acusado de traição. Após ver sua esposa
ser assassinada e seu nome indelevelmente manchado, decidiu trilhar com seu
filho pequeno a estrada do assassino, tornando-se um demônio em vida, preparado
para a morte como um agente do caos. Wakayama, mesmo sendo reconhecido
profissionalmente por sua comicidade e fisicamente diferente de sua contraparte
literária, consegue interpretar esse anti-herói com humanidade, tornando suas
ações justificáveis. A ternura com que ele olha para o pequeno Daigoro (Akihiro
Tomikawa), momentos antes de vê-lo ser jogado em um poço no segundo filme,
traduz com perfeição a forte ligação entre os dois.
A ação neste Jidaigeki (dramas
de época, normalmente passados durante o período Edo) é conduzida como um espetáculo
estilizado, abusando do estilo Chambara, com cortes de espada que fazem
espirrar jorros de sangue (efeito emulado com perfeição por Quentin Tarantino
em "Kill Bill") e uso generoso de desmembramentos. As cenas de
batalha conseguem extrair beleza, seja em um rio ou no deserto. A fidelidade ao
mangá original de Kazuo Koike e Goseki Gojima é impressionante, podendo ser
comparado ao trabalho de Robert Rodriguez em "Sin City", de Frank
Miller, admirador da obra, responsável pelas capas na edição norte-americana.
Acho particularmente eficiente o trabalho de som no primeiro filme, com os flashbacks mergulhados
em silêncio, utilizado como ferramenta narrativa, deixando apenas os diálogos.
O nível de qualidade se mantém
nas seis produções, mas se eu tivesse que escolher um único momento que
simbolizasse o diferencial desta saga perante tantos projetos tematicamente
similares (como os trabalhos de Hideo Gosha ou a saga "Zatoichi"),
seria a breve cena que ocorre no segundo filme, onde Daigoro busca reanimar seu
pai, gravemente ferido, armazenando água do rio em sua boca de criança. Um lobo
solitário e seu filhote.

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