Meu tio costumava dizer que o tempo é algo subjetivo, que
nunca vivemos realmente no presente, mas, sim, no futuro. Quando eu pedia maiores
explicações, ele tirava os olhos da página dupla da revista “Playboy” e dizia
apenas: “O agora não era considerado o futuro quando você veio me procurar? Da
mesma forma, esse exato momento é o futuro de quando eu comecei a explicar a
você”. Deveras engenhoso, sem dúvida. Uma pena que essa teoria não serviu para
tirá-lo da cadeia anos depois, após ter sido pegado em flagrante no topo do
relógio da Central do Brasil, tentando adiantar os ponteiros com a força da
mente. Questionado pelo juiz, encolerizado, afirmou apenas que o mundo era um
local absurdo onde pessoas sérias como ele eram ridicularizadas, enquanto
milhões de fiéis valorizam pastores que dizem curar um aleijado ao toque de
seus paletós. Para seu azar, o juiz era evangélico, e adicionou cinco anos à sua
pena. Meu tio hoje é um novo homem, tendo aceitado Jesus, conseguiu uma pequena
fortuna em imóveis trabalhando como pastor. Íntegro, nega-se a afirmar curas
milagrosas com seu paletó, utilizando apenas uma discreta capa do “Capitão
Marvel” e uma espada do “He-Man” em suas pregações. O povo o idolatra e o juiz, que um dia o condenou, hoje o convida em suas festas particulares e pede que
ele faça seus truques mentais para divertir seus familiares e amigos.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
PREVEJO QUE OCORRERÃO TERREMOTOS DE ESCALAS INIMAGINÁVEIS NO SEGUNDO DIA DO MÊS OITO DESTE ANO. O PLANETA SACUDIRÁ, OS OCEANOS
REGURGITARÃO ATLÂNTIDA (CANSADA APÓS SÉCULOS DE MUITO DISSE ME DISSE A SEU
RESPEITO) E, PELA PRIMEIRA VEZ, NOVE POLÍTICOS IRÃO COMPARECER À CÂMARA SABENDO
EXATAMENTE SUAS FUNÇÕES. O COLAPSO SERÁ IRREMEDIÁVEL, O MUNDO ADENTRARÁ UM
PERÍODO DE TREVAS, PORTANTO, DESLIGUEM TODOS OS APARELHOS ELÉTRICOS DAS TOMADAS,
PARA EVITAR PREJUÍZO QUANDO A LUZ RETORNAR. 
(pode ser que não ocorra o tal terremoto, caso algum
político no dia evite piadas futebolísticas com seus secretários, o que pode
causar um rasgo no espaço/tempo e pôr em risco toda essa corrente de
acontecimentos).
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Afinal, como será o futuro? Podemos prevê-lo? Será que
aqueles que ingerem apenas comidas orgânicas conseguirão espantosa sobrevida?
Descubram com o azarado personagem vivido por Woody Allen, no filme que analiso
nos próximos parágrafos (sutil, não?)...
O Dorminhoco (Sleeper – 1973)
Após iniciar com uma despretensiosa brincadeira e dirigir
três produções que eram colagens de ótimas ideias cômicas, esquetes, mas sem
um fio condutor forte, Allen encarava seu primeiro desafio narrativo: um
projeto com pé e cabeça, além de um nariz que comandava um sistema ditatorial.
Engraçado do início ao fim, o filme representa perfeitamente a fase inicial
do diretor, onde ele desejava apenas levar humor ao público. Com o tempo, ele
foi se tornando cada vez mais ambicioso, chegando ao ponto de procurar emular
seu ídolo: Ingmar Bergman. Mas essa é uma história a ser contada em um futuro
próximo (novamente a sutileza imperando).
Miles Monroe dá entrada em um hospital para uma operação
simples, mas acaba acordando duzentos anos depois, em um mundo inspirado nas obras
de H.G. Wells, Ray Bradbury e George Orwell. O diretor chegou a conversar com o
mestre da ficção científica Isaac Asimov, avaliando a forma de abordar esse
distópico mundo do futuro. Claro que esse bate papo deve ter rendido muito mais
gargalhadas que reais discussões acerca do tema, já que a proposta do projeto
nunca foi tratar com formalidade o fu...
AVISO: O CRIADOR DESTE TEXTO ESTÁ PROIBIDO DE UTILIZAR
A PALAVRA “FUTURO” MAIS UMA VEZ, BANALIZANDO ASSIM A EXPRESSÃO.
A bela Diane Keaton interpreta Luna, uma pacifista poetisa
que normalmente serve de escada para os ferinos one-liners de Allen, que
aproveita a ambientação no... Séculos à frente de seu tempo, para criticar o
governo de seu país, como quando se refere à “Associação Nacional do Rifle”,
dizendo: “Uma organização que ajudava criminosos a conseguirem armas, para
matarem cidadãos. Era chamada de serviço público”. Allen começava a demonstrar
um humor mais corajoso, com gags mais elaboradas (mais do que esta
com a utilização excessiva da palavra “futuro”, que deveria envergonhar o
pusilânime que a imaginou).

Nenhum comentário:
Postar um comentário