Moscou Contra 007 (From Russia With Love, 1963)
Com o sucesso popular de “Dr. No”, os produtores decidiram
investir no quinto livro de Ian Fleming (seu favorito), que havia sido o
responsável por toda a “Bond Mania” que tomou a América, após ter sido indicado
em uma lista pessoal de obras favoritas do presidente Kennedy. A direção de
Terence Young mantém a elegância do filme anterior, porém nota-se maior
maturidade no desenvolvimento dos personagens.
Neste segundo filme, a gênese do personagem torna-se
completa com a inclusão do personagem “Q” (vivido em dezesseis filmes por Desmond
Llewelyn), um armeiro da organização MI6 que oferece ao nosso herói as últimas
novidades do ramo tecnológico, as famosas gadgets que sempre o salvam no
último segundo. Ao longo da série estes equipamentos acabaram influenciando o
mundo real (como a máquina de café expresso em “Viva e Deixe Morrer”, os
telefones nos carros, os pagers e o jet ski, criado para “O Espião que me
Amava”), tornando-se um grande equívoco analisá-los sem contextualizá-los em
seu tempo. Outros elementos iniciados nesta obra, que iriam ser abraçados pelo
inconsciente coletivo dos cinéfilos: as cenas pré-créditos iniciais, sempre
estabelecendo um momento de tensão, muitas vezes um cliffhanger, e a
canção-tema, no anterior havia sido utilizada uma canção genérica: “Kingston
Calypso”, sem relação com a trama, que desta feita foi interpretada de forma
refinada por Matt Munro.
Seus flertes com a secretária Moneypenny (Lois Maxwell)
consolidam-se como uma marca registrada da série, assim como a presença
misteriosa de um homem, que somente com sua soturna voz e uma mão, sempre
acariciando um felpudo gato, impõe-se como uma inabalável ameaça. O
grande Ernst Stavro Blofeld tornou-se o vilão símbolo de James Bond.
Líder da organização S.P.E.C.T.R.E. (variação da SMERSH literária), com a
intenção de assassinar o agente, ele contrata os serviços de um assassino
profissional chamado Red Grant, um homicida que utiliza em suas missões um
fio-garrote que puxa de seu relógio. O vilão foi vivido por Robert Shaw,
inglês advindo de papéis Shakespearianos nos teatros da Escócia, onde havia
sido criado. Complementando o elenco, uma atriz austríaca de formação teatral
chamada Lotte Lenya, interpreta a sádica oficial russa Rosa Klebb, o
cérebro por trás da operação criminosa, abaixo apenas de Blofeld. Vale
salientar também a presença do grande ator mexicano Pedro Armendáriz, em
seu último papel no cinema, como o fiel aliado de 007: Kerim Bey. O ator
sofria com um câncer e suicidou-se dias após a conclusão das filmagens.
Na história, o agente secreto é enviado à Turquia para
escoltar de volta à Inglaterra uma secretária da embaixada da URSS em troca de
uma máquina descodificadora Lektor. A Bond Girl Tatiana Romanova
é interpretada pela italiana Daniela Bianchi, por muitos considerada
a mais bela entre todas da franquia, que consegue transparecer de forma
eficiente um desamparo emocional, deixando claro se tratar de uma vítima
surpreendida no fogo cruzado entre os países. Sua primeira cena com Connery
causou frisson na época, pois ela aparece nua por um milésimo de
segundo enquanto desnuda-se e deita-se na cama à espera do espião. Eram outros
tempos, a cena hoje em dia não causa nenhum espanto.
Dentre as empolgantes sequências de ação, destaco a caótica
batalha no campo cigano ao som da excelente trilha “007”, composta por John
Barry, a perseguição ao agente perpetrada por um helicóptero, baseada
livremente na cena clássica de “Intriga Internacional”, de Hitchcock, e o
sensacional embate final entre o herói e o calculista Grant, que consegue
emular com perfeição o senso de perigo e suspense construído no livro. A cena
no Expresso do Oriente foi considerada de forma justa um dos melhores momentos
de toda a série.
“Moscou Contra 007” não é apenas muito superior ao seu
antecessor (roteiro, atuações e direção), o projeto estabeleceu um padrão de
qualidade que já foi igualado, porém nunca superado. A obra mais memorável da
franquia.
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