Normalmente quando um crítico prepara uma lista temática,
escolhe os filmes mediante um acordo entre seu lado racional e emocional,
levando em consideração a importância das obras em seu contexto e seu mérito
técnico. Como sou um fã deste gênero (em todas as suas vertentes), irei fazer
diferente e escolherei meus filmes favoritos, que considero mais interessantes,
mesmo que não sejam renomados ou exemplos de requinte. Alguns inclusive podem
não ser exatamente do gênero, mas apavoram o suficiente para incluí-los na
lista. A divisão também será diferente, sem escala de preferência. Para não
estender demais a postagem, cada filme terá apenas um breve comentário (nada
técnico, mas emocional).
Diretores Autorais/Elenco Refinado:
David Cronenberg
- Filhos do Medo (The Brood – 1979) – Crianças
mutantes atacando uma escola, algo que seria impensável no mundo chato e
politicamente correto de hoje.
- A Hora da Zona Morta (The Dead Zone – 1983) –
Foi o filme que me apresentou à obra literária de Stephen King
- A Mosca (The Fly – 1986) – Quando eu era
criança, bastava me deparar com a cara do Jeff Goldblum na televisão em
qualquer filme, que corria para longe. A cena das unhas traumatizou uma
geração.
Michael Winner
- A Sentinela dos Malditos (The Sentinel – 1977) –
Ava Gardner, Eli Wallach, Martin Balsam, Mel Ferrer e Burgess Meredith, entre
outros, na obra de terror com o elenco mais refinado de todos os tempos. Tema e
execução perfeitos, criando cenas apavorantes, como o vulto que atravessa o
quarto escuro e o ataque dos malditos (utilizando pessoas com deformações
físicas reais, algo que nunca mais se repetirá na indústria).
Alfred Hitchcock
- Psicose (Psycho – 1960) – Muito se fala da cena
no chuveiro, mas a que me apavorou quando assisti pela primeira vez foi o
ataque ao homem na escada. A utilização de um ângulo de câmera diferente teria
arruinado a cena.
- Os Pássaros (The Birds – 1963) – Somente um gênio
poderia nos fazer ter medo de pombos.
Nicolas Roeg
- Inverno de Sangue em Veneza (Don't Look Now - 1973) - Quando penso em um final inesquecível...
Stanley Kubrick
- O Iluminado (The Shining – 1980) – Transmite com
extrema eficiência a sensação de solidão. Chegamos a sentir frio no clímax. Sem
Jack Nicholson não teria sido tão eficiente.
David Lynch
- Eraserhead (Eraserhead – 1977) – Incompreensível
e grotesco. Um pesadelo daqueles que nos levantam no meio da noite e nos fazem
buscar o interruptor.
- Veludo Azul (Blue Velvet – 1986) – Um dos
melhores filmes de terror psicológico, auxiliado pela incrível construção de
clima do diretor.
Pedro Almodóvar
- A Pele que Habito (La Piel que Habito -2011) –
Poucos filmes trabalharam tão bem a questão da identidade.
Rob Reiner
- Louca Obsessão (Misery – 1990) – Ah, Kathy Bates
e a cena do martelo...
M. Night Shyamalan
- O Sexto Sentido (The Sixth Sense – 1999) – Desde
“O Exorcista”, que o paranormal não havia sido tão bem trabalhado.
William Friedkin
- O Exorcista (The Exorcist – 1973) – Até um ateu
convicto sente sua espinha gelar ao assistir esta batalha entre o céu e o
inferno, pela sobrevivência de uma garotinha.
David Fincher
- Seven – Os Sete Crimes Capitais (Seven – 1995) –
Tente esquecer o desfecho...
John Frankenheimer
- Sob o Domínio do Mal (The Manchurian Candidate –
1962) – O terror que reside na mente, frágil à manipulação...
Charles Laughton
- O Mensageiro do Diabo (The Night of The Hunter –
1955) – Robert Mitchum vive um golpista que se passa por pastor evangélico,
aterrorizando duas crianças.
Robert Wise
- O Enigma de Andrômeda (The Andromeda Strain –
1971) – Uma bactéria alienígena, um grupo de cientistas buscando resolver o
problema, que Wise conduz com apavorante calma e silêncio.
Darren Aronofsky
- Cisne Negro (Black Swan – 2010) – O medo
interior, a busca por vencê-lo, a abdicação da alma neste processo.
Martin Scorsese
- Cabo do Medo (Cape Fear – 1991) – De Niro dá
mais medo que todos os monstros do gênero juntos, nesta refilmagem superior ao
original.
Richard Donner
- A Profecia (The Omen – 1976) – Escutar a trilha
sonora de Jerry Goldsmith no escuro sozinho ainda é algo desafiador...
Alan Parker
- Coração Satânico (Angel Heart – 1987) – De Niro
como satanás, precisa dizer algo mais?
Jonathan Demme
- O Silêncio dos Inocentes (The Silence of the
Lambs – 1991) – Anthony Hopkins como um refinado canibal, na única obra do
gênero a ser laureada com o Oscar principal.
Roman Polanski
- O Bebê de Rosemary (Rosemary´s Baby – 1968) – O
mais ousado em uma época em que a ousadia predominava no gênero.
Brian De Palma
- Carrie – A Estranha (Carrie – 1976) – Quebrei um
copo, que caiu da minha mão com o susto no desfecho...
Henri-Georges Clouzot
- As Diabólicas (Les Diaboliques – 1955) – O único
diretor capaz de fazer tremer até Hitchcock.
Obras Subestimadas ou Injustamente Pouco Conhecidas:
- Cubo (Cube, de Vincenzo Natali – 1997) – Antes
de “Jogos Mortais” e seus similares, houve este filme de baixo orçamento. Nem
preciso dizer que ele é melhor que todas as sequências do filme já citado,
juntas...
- A Coisa (The Stuff – 1985) – A cena da pressão
psicológica com o creme de barbear continua tão eficiente quanto em seu ano de
estreia.
- O Exorcista 3 (The Exorcist 3 – 1990) –
Diferente do que muitos pensam, nesta obra roteirizada e dirigida pelo criador
do livro original, William Peter Blatty, o clima é opressivo e algumas cenas
podem ser inseridas em qualquer top do gênero, como a da enfermeira.
- O Homem de Palha (The Wicker Man – 1973) –
Christopher Lee e um culto pagão inesquecível.
- Possessão (Possession – 1981) – Isabelle Adjani
e Sam Neill no retrato mais doentio de um relacionamento fracassado.
- Os Olhos da Cidade São Meus (Anguish – 1987) –
Para quem considera “A Origem” original...
- A Troca (The Changeling – 1980) – O melhor filme
do subgênero “casas mal-assombradas”.
- A Hora do Lobisomem (Silver Bullet – 1985) – Meu
filme de terror preferido quando criança.
- O Ritual dos Sádicos (1970) – José Mojica Marins
em seu melhor trabalho.
- O Castelo Maldito (Castle Freak – 1995) –
Deveria ser mais famoso que o inferior “Re-Animator”, do mesmo diretor: Stuart
Gordon.
Monstros, Espíritos, Alienígenas e “Terrir”:
- Fome Animal (Braindead – 1992) – Peter Jackson
equilibrando o humor e o terror, com o auxílio de um padre karateca.
- Poltergeist – O Fenômeno (Poltergeist – 1982) –
Com mais momentos cômicos ou “chapa branca” que deveria (influência de
Spielberg, provavelmente), ainda se mantém forte em seu ato final.
- Um Lobisomem Americano em Londres (An American
Werewolf in London – 1981) – John Landis e a melhor cena de transformação já
captada até hoje.
- A Hora do Espanto (Fright Night – 1985) – Muito
imitado na época, nunca igualado.
- Os Garotos Perdidos (The Lost Boys – 1987) – Uma
das poucas imitações de “A Hora do Espanto” que merecem crédito...
- O Enigma de Outro Mundo (The Thing – 1982) –
John Carpenter ensinando como realizar uma refilmagem mais eficiente que o
original.
- Alien – O Oitavo Passageiro (Alien – 1979) – Uma
aula de construção de suspense, cabulada por todos os cineastas da nova
geração.
- Tubarão (Jaws – 1975) – Enquanto que em
“Jurassic Park”, os dinossauros de Spielberg não exibiam sangue e vísceras nas
presas, seu monstro marítimo continua afastando muitos banhistas do oceano.
- Halloween – A Noite do Terror (Halloween – 1978)
– Mesmo sabendo o filme de trás para frente, ainda me assusto quando Michael
Myers se levanta...
- Sexta-Feira 13 – Parte 2 (Friday the 13th, Part
2 – 1981) – O primeiro pode ter iniciado a franquia, mas é neste segundo que o
terror se instaura. A desolação é ainda muito eficiente, muito antes de Jason
virar uma sátira nas sequências.
- A Hora do Pesadelo (A Nightmare on Elm Street –
1984) – Wes Craven utiliza o desconhecido que permeia o mundo onírico, compondo
um personagem inesquecível: Freddy Krueger.
- O Massacre da Serra Elétrica (The Texas Chainsaw
Massacre – 1974) – Traduz com perfeição o aspecto doentio da trama.
- Hellraiser – Renascido do Inferno (Hellraiser –
1987) – Clive Barker cria algo tão repulsivo, que parece que foi co-roteirizado
pelo próprio capeta.
- A Morte do Demônio (The Evil Dead – 1981) – Sam Raimi
transformaria o conceito em um pastiche na sequência mais famosa.
- Brinquedo Assassino (Child´s Play – 1988) –
Pensar que eu já tive medo do Chucky...
- O Orfanato (El Orfanato – 2007) – Um dos poucos
filmes de terror que emocionam ao final.
- Espíritos – A Morte Está ao Seu Lado (Shutter –
2004) – A última vez que me lembro de sentir genuíno pavor na sala de cinema.
Zumbis, Giallos e “Schockumentary´s”:
- Cannibal Holocaust (1980) – Revoltante e ainda
assim, coerente ao seu propósito. Não recomendado para estômagos fracos.
- REC (2007) – Única obra no estilo “câmera
tremida na mão”, que eu considero interessante.
- A Volta dos Mortos-Vivos (The Return of The
Living Dead - 1985) - Dan O´Bannon reinventa o conceito de Romero, com uma
pitada de humor.
George Romero
- A Noite dos Mortos-Vivos (Night of the Living
Dead - 1968) – Estabelece o clima desde os primeiros segundos.
- O Despertar dos Mortos (Dawn of the Dead – 1978)
– Quem nunca quis passar uma madrugada dentro de um shopping vazio?
- O Dia dos Mortos (Day of the Dead – 1985) – O
“gore” mais eficiente da trilogia.
Dario Argento
- Prelúdio para Matar (Profondo Rosso – 1975) –
Atento aos detalhes...
- Suspiria (Suspiria – 1977) – “Terror arte” em
estado puro.
Lucio Fulci
- Zombi – A Volta dos Mortos (Zombi 2 – 1979) –
Quem venceria uma luta entre um zumbi e um tubarão?
Terror Clássico:
- O Gabinete do Dr. Caligari (Das Cabinet Des Dr.
Caligari – 1920) – A loucura retratada pelo expressionismo alemão.
- A Carruagem Fantasma (Körkarlen – 1921) –
Efeitos ainda hoje impressionantes pela criatividade investida em sua
realização.
- Nosferatu (Nosferatu, Eine Symphonie des Grauens
– 1922) – Murnau ensinando aos americanos como realizar uma obra no gênero.
- O Fantasma da Ópera (The Phantom of the Opera –
1925) – A chocante revelação de Lon Chaney, onde até a câmera fica embaçada
para evitar vê-lo sem a máscara.
- A Casa dos Maus Espíritos (House on Haunted Hill
– 1959) – O terror como uma atração de parque de diversões.
- Drácula (1931) – Bela Lugosi consegue dar medo
até mesmo sem a ajuda do roteiro.
- Frankenstein (1931) – Boris Karloff emociona
como o monstro incompreendido.
- O Homem-Invisível (The Invisible Man – 1933) –
Nenhum efeito em computação gráfica até hoje transpôs melhor esta história.
- Monstros (Freaks – 1932) – O ataque dos
“monstros” na chuva, inesquecível.
- O Vampiro da Noite (Horror of Dracula – 1958) –
Christopher Lee e Peter Cushing na obra-prima dos estúdios “Hammer”.