quinta-feira, 27 de março de 2014

Rocky - Um Lutador


Rocky - Um Lutador (1976)
Rocky é muito mais que lutas coreografadas em um ringue. Trata-se do sonho de Sylvester Stallone transmitido aos quatro cantos do mundo, sua história refletida em cada pessoa que assiste. Rocky somos todos nós. O público que assiste e pensa tratar-se de uma apologia da violência gratuita ou um incentivo para que todos comecem a cultivar excessivamente o próprio corpo e se interessar por boxe, não poderia estar mais enganado com relação às intenções de seu criador.

O jovem ator tinha em sua mente, desde o princípio, toda a saga desse pobre sujeito que nunca havia conquistado nada em sua vida. Inculto e complexado, ele trabalhava como cobrador para um agiota local e, mesmo sem muita técnica, lutava boxe por uns trocados. A sua atitude tranquila no dia a dia comprova que a opção de lutar não era uma pretensão genuína, mas sim uma fuga de uma vida real ordinária. Durante alguns minutos, ele tornava-se importante e poderoso, mesmo em ringues pouco iluminados e para uma plateia de bêbados e frustrados. Seu coração encontrava consolo na timidez doentia de uma atendente de pet shop, que por alguns momentos lhe dava atenção, agindo quase como uma psicóloga, sem preocupar-se com suas origens. Sua grande oportunidade aparece quando o campeão de boxe, refinado e irônico decide dar oportunidade a um lutador regional de disputar seu título, em comemoração ao bicentenário dos Estados Unidos. Por puro acaso, ajudado por sua descendência italiana e apelido curioso: “O Garanhão Italiano”, o jovem é o escolhido para o evento. Seria ele capaz de aguentar um round inteiro contra o campeão mundial? As estatísticas mais esperançosas afirmavam que ele não suportaria sequer dois rounds. Daquele momento em diante, iniciava sua batalha interior, muito mais violenta que a exterior nos ringues, onde ele teria que provar a si mesmo que seria capaz de ficar de pé, apanhando duramente, mas mantendo-se consciente até o final. Ele sabe que não tem o talento necessário, que não possui estrutura física e mental para acompanhar as estratégias do oponente, porém, sua dignidade irá guiá-lo até o soar do gongo final. Não importa o resultado. Caso consiga se manter de pé ao final, saberá que sua vida vale alguma coisa, que é alguém. Ao final da luta, não interessava se havia se sagrado vencedor, empatado ou perdido, pois a maior vitória ele já havia conquistado: a confiança em si mesmo e o amor da mulher de sua vida.


Com esse roteiro simples e genial em mãos, o jovem bateu de porta em porta procurando um estúdio que se arriscasse em promover o produto de um novato. Os produtores Robert Chartoff e Irwin Winkler adoraram a ideia e já imaginaram no papel principal alguns astros de renome, como James Caan e Robert Redford, porém o jovem disse que só venderia o roteiro se o deixassem protagonizá-lo. O acordo foi feito mediante a obrigação de manter os custos de produção abaixo da média. Logo, juntaram-se ao elenco Talia Shire (Adrian), Carl Weathers (Apollo), Burt Young (Paulie) e Burgess Meredith (Mickey), formando assim um núcleo perfeito onde a camaradagem era uma constante, o que possibilitou a realização de várias continuações. Com o auxílio de uma trilha sonora perfeita de Bill Conti e uma direção competente de John G. Avildsen, O filme foi um sucesso popular sem precedentes, com plateias que se emocionavam com o romance dos protagonistas e vibravam com a luta final, como se estivessem assistindo um desafio profissional no Madison Square Garden. A realidade é que a verba incrivelmente reduzida ajudou na criação de várias cenas que entraram para a história, como o treino do protagonista e sua simbólica escalada final na escadaria do Museu de Arte da Filadélfia. A analogia é clara, o treino só finaliza quando o personagem consegue chegar ao topo, sem se cansar. Quase uma subida aos céus, antes de descer ao inferno da luta.

O filme que nenhum estúdio queria, sagrou-se o campeão do Oscar de melhor produção do ano. Stallone tornou-se um sobrenome facilmente reconhecível no mundo todo e havia recebido permissão para a realização de uma continuação, agora acumulando as funções de ator, roteirista e diretor. Muitos afirmam que não existem méritos nas continuações da saga, porém discordo veementemente. O que existe é uma tentativa deliberada de críticos pseudointelectuais de menosprezar qualquer coisa que seja popular demais. Rocky não é popularesco, simplista, ele apenas possui uma maneira de transmitir sua mensagem de forma direta e eficaz, de fácil entendimento. O fascínio popular do personagem vai além dos filmes, suas músicas tocam até hoje, seu tema virou sinônimo do esporte.

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