quinta-feira, 6 de março de 2014

James Stewart


Celebro a arte de um artista único em sua área, alguém que conseguiu em vida representar as facetas mais nobres do ser humano: James Stewart. Ele foi considerado por seus colegas na indústria como a epítome da elegância. Sua natureza era genuinamente íntegra, levando-o a não se furtar de expor suas opiniões, suas verdades, mesmo quando havia grande chance de que elas caminhassem contra o senso da maioria. Falava abertamente contra o processo de colorização de filmes clássicos, algo interessante para a indústria, durante a década de oitenta, como uma forma de protestar contra o que considerava uma falta de respeito com os profissionais que haviam trabalhado naquelas obras. Amava especialmente, dentre todos os seus papéis, o que interpretou no belo “A Felicidade não se Compra” (It´s a Wonderful Life – 1946) de Frank Capra. O personagem que ele defende neste clássico e em outro do mesmo diretor: “A Mulher Faz o Homem” (Mr. Smith Goes to Washington – 1939), podem ser considerados reflexos fiéis de sua conduta em vida. Seja o generoso George Bailey, ou o corajoso Jefferson Smith, ambos se arriscam a perder a sanidade, mas não admitem que seus valores tombem ou sequer se curvem perante o que consideram errado.

Quando recebeu o prêmio honorário por sua carreira no Oscar de 1985, afirmou visivelmente emocionado: “o maior prêmio que já recebi, foi perceber que mesmo após todos estes longos anos, eu não fui esquecido”. A plateia, composta por membros da nova geração e por velhos colegas dele, não conteve a emoção e recebeu-o de pé, aplaudindo-o entusiasticamente por longos dez minutos. Hoje em dia essas cerimônias e a própria indústria encontram-se tão artificiais que situações como essas não voltarão a ocorrer, porém, houve uma época em que maior valor era dado aos artistas que subiam ao palco, do que ao tempo de seus discursos. Os membros da plateia também reagiam emocionalmente, preocupando-se menos em como iriam aparecer quando as câmeras os focalizassem. Ídolos que hoje são feitos de barro, mais preocupados com o lobby do tapete vermelho do que com a real função dessas premiações: reverenciar de forma justa o trabalho dos colegas. A forma como Cary Grant se referiu a ele, enquanto chamava-o ao palco, já explicita o sentimento que o homenageado de hoje conquistou: “um homem que todos nós amamos, respeitamos e admiramos”. Não existe forma mais digna de se chegar ao crepúsculo de uma vida.

Stewart me fez acreditar em Jefferson Smith quando assisti pela primeira vez, ainda na pré-adolescência. Não somente ele me inspira de forma lúdica, como vivo mediante o mesmo código de valores que o personagem tão arduamente batalhou para fazer valer. No famoso discurso final do personagem no julgamento, exaurido física e mentalmente após horas falando ininterruptamente, apenas seu caráter o mantinha de pé. Emociono-me sempre que assisto George Bailey retornar à sua casa e ternamente beijar o puxador quebrado da escada, que antes lhe simbolizava a decadência de seu estilo de vida. Sendo bastante sincero, basta lembrar-me de James Stewart para sentir uma saudade extrema de uma época que não vivi, onde pessoas como ele conseguiam impor-se em um mundo mais ético e elegante. Parabéns, Jimmy! Eterno será, enquanto houverem artistas trabalhando, guiados pela apaixonante devoção por justiça.
Comentários
1 Comentários

Um comentário:

  1. "...ambos arriscam-se a perder sua sanidade, mas não admitem que seus valores tombem ou sequer se curvem perante o que consideram errado." (ISSO poderia representar todo o caráter que Stewart passava como ator).

    James realmente merece ser sempre lembrado!

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