quarta-feira, 5 de março de 2014

Cine Bueller - "Saudades de Um Pracinha"


Saudades de Um Pracinha (G.I. Blues – 1960)
Tulsa McLean (Elvis) é um soldado cujo maior sonho é ser dono de um "Night Club". Para conseguir o valor em dinheiro para que ele possa abrir o seu empreendimento, ele aceita participar de uma aposta, onde, na qual, ele deve passar uma noite com uma bailarina famosa (Juliet Prowse) no local, porém, os dois acabam se apaixonando.


Elvis Presley havia conseguido provar aos críticos seu talento como ator em seu filme anterior: “Balada Sangrenta” (King Creole – 1958), mas perdeu dois anos sendo domado, acorrentado ao serviço militar, longe de seu público. Com o sucesso avassalador de “Ama-me Com Ternura” (Love Me Tender – 1956), uma produção de baixo orçamento, os estúdios perceberam que havia um forte potencial financeiro nos projetos direcionados aos adolescentes americanos. Os produtores entenderam o clamor dos jovens, interessados principalmente em retirá-los de frente da televisão, essa invenção que estava tirando o sono dos executivos de cinema, focando toda atenção nesse cantor extremamente carismático que os levava a assistir diversas vezes suas produções, qualquer que fosse o nível do entretenimento em que estivesse inserido. E, pelo menos em seus primeiros flertes com a Sétima Arte, o nível era bastante respeitável. Seus filmes seguintes: “A Mulher Que Eu Amo” (Loving You – 1957) e “O Prisioneiro do Rock and Roll” (Jailhouse Rock – 1957) criaram a fórmula que seria seguida por vários produtos similares, mas sem o elemento principal. Veio então o exílio militar e uma década posterior com mais baixos que altos.

“Saudades de Um Pracinha” era o quinto filme em sua carreira, um retorno muito aguardado pelos fãs e curiosos, algo que motivou até mesmo um especial televisivo onde Frank Sinatra se encarregava de dar as boas-vindas ao pracinha roqueiro. A Paramount não poupou despesas, aceitando o risco de que os jovens americanos já não estariam mais tão interessados no rapaz de Tupelo, Mississippi. O produtor Hal Wallis se encarregava de filmar algumas locações na Alemanha, enquanto Presley ainda tinha seis meses de serviço militar pela frente. O investimento era considerável, acreditando que a ausência do astro na mídia durante aquele longo tempo teria servido para aumentar o mito do artista. O diretor escolhido foi o veterano Norman Taurog, que havia sido um dos responsáveis pelo clássico “O Mágico de Oz”, além de ter comandado comédias de Bing Crosby e da dupla Martin/Lewis, como “O Meninão” e “O Rei do Laço”. Em entrevistas à época das filmagens, o diretor louvava a educação do jovem e sua sensibilidade como bom ouvinte, qualidade essencial de um bom ator. Sua relação com Elvis foi tão bacana que ele acabaria dirigindo mais oito produções protagonizadas pelo “Rei do Rock”.

O conceito inicial previa uma comédia musical com uma trilha sonora que abraçasse diversos gêneros, evidenciando a versatilidade de um cantor que havia aprimorado bastante seu talento desde seus primeiros escandalosos rebolados em rede nacional. Com impecável entrega, Elvis revisitou o rock de Carl Perkins “Blue Suede Shoes”, a balada romântica em “Pocketful of Rainbows”, e foi da música de ninar “Big Boots” a uma versão da clássica opereta “Barcarola” de Jacques Offenbach: “Tonight’s So Right For Love”, passando com desenvoltura por “Wooden Heart”, baseada em uma tradicional canção folclórica alemã, além da marchinha militar “Didja Ever”, sempre com um sorriso contagiante no rosto. É interessante notar o gradativo desinteresse do astro ao longo de sua década em Hollywood, especialmente após 1965, onde era cada vez mais raro perceber alegria genuína em suas atuações.

O filme foi um sucesso de bilheteria, tendo recebido críticas favoráveis e até uma importante indicação ao “Writers Guild of America”, como “Melhor Roteiro de Musical”, além da indicação ao Grammy como “Melhor Trilha Sonora”. A parceria em cena com a bela dançarina Juliet Prowse pode ser considerada apenas um degrau abaixo da química que ele alcançaria anos depois com Ann-Margret em “Amor a Toda Velocidade” (Viva Las Vegas – 1964). Era indiscutível que aquele garoto rebelde que havia revolucionado o mundo com sua música havia se tornado um adulto sofisticado, um genro que toda mãe gostaria de ter. Mas essa constatação não diminui o brilho de seu carisma em cena, capaz de “carregar nas costas” uma produção. Como ator, Elvis estava em sua melhor fase, que completaria nos seguintes dramas “Estrela de Fogo” (Flaming Star – 1960) e “Coração Rebelde” (Wild in the Country – 1961), ambos para os estúdios Fox. Infelizmente, graças em grande parte à ambição desenfreada de seu empresário Coronel Parker, ele nunca mais encontraria papéis desafiadores, tendo que assistir o lento minguar de seus sonhos como astro de cinema.

Claro que nada disso importava para o garoto que voltava correndo da escola para assistir o filme na “Sessão da Tarde”, tentando imitar as danças enquanto devorava um saquinho das “Balas Boneco”. Anos mais tarde, consigo recordar a emoção que senti ao me surpreender com ele sendo exibido num “Corujão” de Sexta para Sábado. Já não existiam mais as “Balas Boneco”, mas a lembrança do sabor ainda me causava água na boca. Bons tempos em que a Rede Globo valorizava Elvis Presley, com generosa exibição de seus filmes, não Justin Bieber. 
Comentários
1 Comentários

Um comentário:

  1. Adorei, acho que é a primeira vez que vejo você falar assim do Rei do Rock, amei ficou lindo. No decorrer da leitura me remeti ao passado e consegui ver como eu agia naquele tempo ao assistir aos filmes. Agradeço por me fazer feliz.

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