sexta-feira, 21 de março de 2014

O Cinema de Mizoguchi - "As Irmãs de Gion"


A distribuidora “Versátil” está lançando o extraordinário box “O Cinema de Mizoguchi”, com cinco filmes restaurados do mestre, incluindo a obra-prima “Contos da Lua Vaga”.


As Irmãs de Gion (Gion no Shimai – 1936)

“O único propósito de uma gueixa é dar prazer aos homens. Eles nos pagam para sermos seus brinquedos. Somos compradas e vendidas como bens comuns”.

Logo no início, podemos assistir o movimento da câmera em tracking shot, calculadamente da esquerda para a direita, como forma de estabelecer a metáfora da falência social do personagem Furusawa (Shinagoya Benkei), vendo-se obrigado a leiloar seus pertences, e a inevitabilidade da contundência do tempo. Percebemos que estamos diante de um cineasta autoral, com uma mensagem objetiva e total noção de como passá-la imageticamente da maneira mais eficiente.

A irmã mais velha de Kenji Mizoguchi foi vendida por causa da pobreza em que sua família vivia, causando no jovem uma profunda cicatriz, que ele deixa transparecer em sua recorrente preocupação com a função das mulheres em sua sociedade machista. O roteiro de Yoshikata Yoda trabalha o conceito utilizando duas irmãs inseridas na mesma realidade, mas com atitudes totalmente diferentes com relação aos homens. Umekichi (Yoko Umemura) é uma gueixa tradicional que aceita as limitações impostas, leal aos seus protetores, enquanto sua irmã caçula Omocha (Isuzu Yamada) sabe tirar vantagem dos homens, por acreditar que mereçam ser explorados, fazendo uso de traições e mentiras em porções generosas. O discurso do cineasta não é sutil, como fica claro nos minutos finais da obra, corajosamente feminista para sua época.

A conclusão deixa claro que as estratégias das irmãs, radicalmente opostas (submissão/confronto), surtem o mesmo efeito trágico. As mulheres estão sempre em desvantagem quando os termos são ditados pela selvageria. Omocha, com seu caminhar desenvolto pela estrada da hipocrisia humana, é uma personagem ricamente trabalhada, facilitando para que simpatizemos com sua jornada, ainda que seu comportamento também esteja longe de ser valoroso.

A Seguir: “Senhorita Oyu” (Oyu-Sama – 1951)

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