domingo, 22 de abril de 2018

"Submersão", de Wim Wenders


Submersão (Submergence - 2017)
É um fardo terrível para qualquer cineasta competente a expectativa de seu público e, principalmente, da crítica especializada. Wim Wenders está sofrendo nos projetos recentes críticas pesadas, adjetivos como "decepcionante" são comuns nos textos dos veículos norte-americanos sobre "Submersão". Se você entende que cada filme representa um momento específico de seu realizador, tendo a maturidade de enxergar a obra sem o ingrato peso do legado, vai aplaudir a sensibilidade elegante que domina esta adaptação do livro de J.M. Ledegard. Há problemas de ritmo no segundo ato, consequência das opções da montagem, mas os méritos merecem maior destaque.

A trama, em essência, aborda o romance entre uma cientista (Alicia Vikander) e um engenheiro/espião (James McAvoy). Eles se esbarram durante a estadia em um hotel na costa francesa. Indivíduos com experiências muito diferentes, a atração física logo dá lugar ao suprir de carências mais profundas. Ele, idealista, vai ser capturado em missão por jihadistas do Estado Islâmico, sofrendo todo tipo de tortura em um ambiente sufocante. Ela, corajosa pesquisadora, vai desbravar as zonas abissais do oceano em um submarino, consciente de que as chances de sair viva são poucas. Os dois ficarão incomunicáveis, isolados da civilização, as lembranças tão simples do romance breve serão ressignificadas neste processo, com o roteiro inserindo questionamentos interessantes sobre o conflito entre ciência e religião.

A primeira hora é impecável, estabelecendo as motivações emocionais e psicológicas dos protagonistas. Quando o amor envolve o casal, a química entre Vikander e McAvoy transborda verdade, duas almas solitárias que se complementam às vésperas dos momentos mais importantes de suas vidas, encontro inesperado que verdadeiramente define suas personalidades. A fotografia de Benoît Debie, de "Irreversível", compreende muito bem o que está em jogo, potencializando o efeito da clausura determinante no terceiro ato ao optar por planos muito abertos e iluminados no início.

Em um diálogo aparentemente trivial, o texto revela o leitmotiv trabalhado por Wenders. O rapaz, exaurido em cativeiro, pensa em voz alta: "Eu ainda sou eu". O que nos torna humanos? A jovem também metaforicamente busca na escuridão absoluta das desconhecidas profundezas oceânicas a confirmação de sua identidade, algo muito mais importante do que qualquer reconhecimento profissional. Não é uma história de amor. "Submersão" utiliza o amor como muleta para explorar a fragilidade de nossas verdades absolutas e a efemeridade da vida. 

sexta-feira, 20 de abril de 2018

"Crimes no Paraíso 2", de Robert Harmon


Crimes no Paraíso 2 (Jesse Stone: Death in Paradise - 2006)
O projeto anterior, "Night Passage", que ainda receberá texto, havia sido um prequel adaptando o livro de estreia do personagem, escrito por Robert B. Parker, então escolho esta excelente terceira aventura, co-roteirizada pelo próprio Tom Selleck, como a melhor maneira de reencontrar o angustiado policial, logo após os acontecimentos retratados em "Stone Cold".

Adaptando-se ao seu papel como o novo chefe de polícia da cidade de Paradise, Massachusetts, Stone (Selleck) investiga o brutal assassinato de uma adolescente problemática encontrada morta boiando em um lago da cidade. Ele logo descobre que a garota era uma estudante exemplar e que, de alguma maneira, acabou no caminho da autodestruição, o que eventualmente levou à morte prematura.

Na subtrama mais interessante, uma dona de casa espancada regularmente pelo marido bêbado busca ajuda policial. O fato de Stone estar lutando contra o alcoolismo agrega camadas em sua compreensão do caso, potencializando o conflito com seus demônios internos. A oficial Molly (Viola Davis) questiona o óbvio, a razão que a impede de se separar do agressor. A resposta é repulsiva: "Sou católica, não posso me divorciar". Ela se submeteu à humilhação dentro de seu lar, ganhou peso, perdeu sua autoestima e, o pior, acredita que é culpada por seu fardo. A crítica aos dogmas estúpidos da religião organizada é algo que dificilmente o gênero defende, quase sempre escravo das rasas motivações por vingança.

Outra demonstração de coragem pode ser encontrada na trama principal dos pais da adolescente morta, uma crítica contundente à necessidade tola de se adequar aos moldes da sociedade. O pai, incomodado com as atitudes da menina, preocupado com o que os outros diriam dele, decidiu expulsar ela de casa. A direção de arte evidencia na sala do casal a artificialidade, pinturas genéricas e objetos que não combinam com nada, mas que são muito valiosos, além de um senso de limpeza/organização exagerado, típico de quem se preocupa mais em arrumar sua casa para impressionar outrem, ao invés de buscar o conforto no dia a dia. Ao ser questionado por Stone, o pai afirma sem titubear: "Eu mantenho altos padrões nesta casa". Os verdadeiros vilões da história, adultos irresponsáveis e sem qualquer vocação para paternidade e maternidade.

Excelente telefilme que somente melhora em revisões, o roteiro de "Crimes no Paraíso 2" é melhor que o de muitos projetos de alto orçamento que são despejados nas salas de cinema todas as semanas. 

quinta-feira, 19 de abril de 2018

"Quase Memória", de Ruy Guerra


Quase Memória (2016)
Com “Quase Memória”, o veterano diretor Ruy Guerra realiza um experimento surrealista sobre a fluidez da memória, adaptando o livro homônimo de Carlos Heitor Cony.

Em cena, o jornalista, dividido em sua versão jovem (Charles Fricks) e idosa (Tony Ramos), busca compreender as transformações em sua vida e, principalmente, enxergar de forma mais justa o legado de seu falecido pai (João Miguel). O diálogo estabelecido entre os dois é irônico, o conformismo frequentemente entrando em choque com a rebeldia, auxiliado por uma direção de arte que encontra formas criativas de driblar o baixo orçamento.

Mas o resultado é prejudicado por uma encenação que obedece a linguagem do teatro, inclusive cometendo o equívoco grosseiro de subestimar a inteligência do público já nos primeiros minutos, quando o roteiro explica que os dois atores vivem versões de um mesmo personagem. É constrangedor ver a técnica da mímica sendo utilizada, o recurso excessivamente didático toma um tempo considerável na cena e causa riso involuntário.

Outro problema é o texto defendido pelo elenco, nada soa minimamente natural, apesar da competência inegável dos artistas. Em alguns momentos é perceptível como o desconforto acaba atrapalhando a execução de falas teoricamente simples, destruindo a imersão emocional na narrativa. As tentativas de alívio cômico são engessadas, não funcionam exatamente porque são afinadas no mesmo diapasão.

As sequências de flashback, os fragmentos de memória envolvendo o pai e a mãe (Mariana Ximenes), são visualmente interessantes, com cores vibrantes propositalmente antinaturais e uma utilização inteligente da iluminação. A ótima cena da mesa de jantar, em que os focos de luz direcionam a atenção do espectador para o ponto de vista de cada personagem, apesar do histrionismo circense irritante na atuação, opção discutível, demonstra o potencial desperdiçado pela obra.

Excelente peça teatral filmada, porém, mediano e sonolento exercício enquanto cinema. 

* Crítica publicada no Caderno B do "Jornal do Brasil" (19/04/18).

"7 Dias em Entebbe", de José Padilha


7 Dias em Entebbe (7 Days in Entebbe - 2018)
No filme, Jose Padilha entrega seu trabalho mais fraco, apático, desorientado, narrativamente preguiçoso, inspirado na história real ocorrida em 1976, o sequestro do Air France Flight 139, que ia de Tel Aviv a Paris. Com apenas uma semana para cumprir o ultimato dos terroristas, após o pouso forçado em Entebbe, na Uganda, o governo de Israel deve tomar uma decisão crítica: negociar ou iniciar uma missão de resgate aparentemente impossível.

A estrutura deste thriller político é repetitiva, apesar dos esforços consideráveis do sempre competente editor Daniel Rezende, especialmente na utilização metafórica da dança contemporânea no ponto alto do filme, arrastando personagens caricaturais em uma sucessão de sequências desgastadas.

A tentativa de estabelecer um tom de sobriedade respeitável é boicotada porque não há investimento emocional, o espectador fica refém dos instintos mais básicos, logo, dependente do desfibrilador que o reanima pela tensão. O problema é que o ritmo é irregular, o senso de entretenimento se perde na retórica excessiva, não há suspense, não há catarse.

É louvável o roteiro evidenciar que o maniqueísmo só serve em histórias infantis, propondo uma análise justa e isenta do conflito entre Israel e Palestina, mas seriedade não é necessariamente sinônimo de frieza. Pouco coração e muitos letreiros. Em teoria, a trama é conduzida por cenas de ação, na prática, as soluções se sucedem de forma incompreensivelmente convencional e entediante.

Quando lembramos que Padilha injetou frescor no gênero com “Tropa de Elite”, qualidade que atraiu a atenção dos produtores norte-americanos, a sensação de frustração somente aumenta.

* Crítica publicada no Caderno B do "Jornal do Brasil" (19/04/18).

terça-feira, 17 de abril de 2018

TRAILER do média-metragem "SACRIFÍCIO" (Roteiro/Direção: Octavio Caruso)


Sinopse: A mulher há muito adiou o doloroso resgate de suas memórias. A vida decide oferecer uma última chance. Ela está pronta para seu maior sacrifício?

Roteiro/Direção: Octavio Caruso
Direção de Fotografia: Sihan Felix
Produção: Teresa Cristina Oliveira
Trilha Sonora Original: Sihan Felix
Arte do cartaz: Laísa Trojaike
Som Direto: Júlia Sotello
Fotos dos Bastidores: Vanessa Caruso

Elenco: Zaira Zambelli, Rosa Felix, Mônica Foroni, Tereza Filardy, Graça Felix, Eduardo Doria, Teresa Cristina Oliveira e Patrick Modenesi.