domingo, 18 de agosto de 2013

Make 'Em Laugh - Divórcio à Italiana / Seduzida e Abandonada


Divórcio à Italiana (Divorzio all´Italiana – 1961)
Para realmente captar o conceito desta obra, precisa-se entender que o divórcio era proibido na sociedade italiana da época (somente legalizado nove anos depois, ainda com vários problemas burocráticos que se estenderiam até o final da década de oitenta). Marcello Mastroianni vive um homem preso a um casamento falido, com uma mulher que não considera sequer atraente (a forte maquiagem em Daniela Rocca ajuda a ressaltar este aspecto) e um status na sociedade (como Barão) que o aprisiona, sentindo-se como parte estrutural daquele ambiente, cujas ações e omissões são julgadas por todos. Mesmo passando uma situação financeira difícil, não pode simplesmente arrumar um emprego qualquer. A paixão que sente é pela prima adolescente (vivida por Stefania Sandrelli). A solução que ele encontra para livrar-se de seu compromisso é induzindo sua esposa a traí-lo, para que ele assim possa pegá-la no ato e assassiná-la (o que era visto pela lei, como um homicídio justificável, com uma pena branda).

O diretor Pietro Germi em seu primeiro trabalho no gênero (após ter realizado alguns ótimos dramas neo-realistas, como “O Ferroviário”), conduz esta excelente comédia com um humor negro irresistível, onde as inserções narradas pelo protagonista em off, ficam cada vez mais absurdas. Não existe previsibilidade no segundo ato, que entrega momentos brilhantes (como o desfecho, onde o diretor demonstra que mesmo na mais escrachada comédia, consegue incutir seus questionamentos de outrora) e outros onde a metalinguagem demonstra a segurança da indústria italiana da época com sua arte, como na inclusão de “A Doce Vida” no enredo, criando a bela cena onde Mastroianni admira a beleza de Anita Ekberg (sua colega na obra de Fellini) na sala escura, como espectador.

Seduzida e Abandonada (Sedotta e Abbandonata – 1964)
“O homem tem o direito de pedir, mas a mulher tem a obrigação de recusar”.

A popular comédia italiana da década de sessenta, inspirava-se nas obras americanas de Howard Hawks, Delbert Mann, Richard Quine e outros, que com humor tratavam da batalha dos sexos (como os protagonizados por Rock Hudson e Doris Day) com uma “pimenta” a mais, caso comparados aos projetos similares das décadas anteriores. Os italianos adicionaram um forte tempero e se ampararam no intenso carisma de seus artistas, resultando em obras como “Matrimônio à Italiana” e “Ontem, Hoje e Amanhã” (ambos com Sophia Loren e Marcello Mastroianni). O filme que abordo neste texto existe em um contexto um pouco diferente, um amadurecimento do conceito, onde os temas eram tratados com o mesmo humor, porém com certo cinismo.

Assim como “Divórcio à Italiana”, faz-se preciso que o espectador moderno tenha em mente três aspectos sobre a sociedade italiana da época, para compreender plenamente a obra e entender a crítica do diretor: 1) A impossibilidade de um casal se divorciar legalmente, 2) A importância dada à honra de uma família, que deveria ser protegida da maneira que fosse possível, 3) Legalmente, um estuprador poderia ser absolvido caso casasse com sua vítima. A bela Stefania Sandrelli (aconselhada por Germi a atuar como se estivesse em um filme mudo) vive a adolescente Agnese, que submete sua família à humilhação moral, ao entregar-se à luxúria (palavra que rende uma das cenas mais engraçadas) com o noivo de sua irmã. Dentre os vários elementos de crítica que Pietro Germi inclui, vale ressaltar a presença do “barão” (vivido por Leopoldo Trieste) falido e suicida, que é manipulado pelo pai da jovem, para noivar com a rejeitada irmã. Mais preocupado em saciar sua fome, o pobre e desdentado homem adia então a utilização de sua corda, que deixa balançando presa ao teto de sua sala sem mobílias.
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