domingo, 29 de novembro de 2015

"Micróbio e Gasolina", de Michel Gondry


Micróbio e Gasolina (Microbe et Gasoil - 2015)
Gondry nos acostumou mal com sua inventividade, em filmes como “Sonhando Acordado”, “Rebobine, Por Favor”, e, especialmente, “Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças”. Quando terminou a sessão de “Micróbio e Gasolina”, tentava puxar pela memória algum elemento no roteiro que tivesse essa marcante impressão digital do diretor, sem sucesso. 

É um road movie muito agradável, com uma pegada lúdica encantadora, contando a história de dois adolescentes: Micróbio, vítima de bullying por sua excessiva introversão, o que explica o apelido pouco carinhoso, e Gasolina, vivido pelo ótimo Téophile Baquet, um desajustado que não se importa com a imagem que os outros projetam nele. Eles embarcam em uma viagem onde pretendem cruzar o país com um carro montado a partir de sucata. Há um pouco de Truffaut em sua visão dos conflitos da adolescência.

Já no design surrealista do veículo, uma casa com direito a telhado, encontramos uma simbologia pouco sutil para o real interesse dos meninos, antagônico ao conceito de fuga do lar: a necessidade de se sentirem seguros. Não por acaso, a mãe de Micróbio, vivida por Audrey Tatou, está enfrentando um divórcio. O destino programado é um acampamento que resgata em um deles uma doce memória infantil, o psicológico desejo por voltar ao colo materno. Nada disso fica aparente na atitude dos dois, que exalam uma postura até arrogante de superioridade com relação aos outros de sua idade, o extravasamento radicalmente oposto, como forma de disfarçar a insegurança. A câmera de Gondry facilita a empatia do público, minimizando os cortes, evitando floreios visuais, a quebra da ilusão, compondo um ritmo bastante lento, reflexivo, verdadeiramente abraçando a jornada dos personagens. 

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