domingo, 15 de novembro de 2015

Guilty Pleasures - "Psicose 2" e "Psicose 3"

Link para os textos do especial:


Psicose 2 (Psycho 2 – 1983)
Psicose 3 (Psycho 3 – 1986)
O segundo tem sua parcela de fãs, o que, sinceramente, não consigo compreender. Ele pode até funcionar medianamente enquanto suspense, mas, com a revelação bombástica do terceiro ato, onde Norman Bates descobre que sua mãe no original não era a sua verdadeira mãe, convenhamos, sem exagero, o roteiro cospe na cara de Alfred Hitchcock e do autor Robert Bloch, que havia escrito uma excelente continuação, que não foi aproveitada na trama, uma crítica bem-humorada ao cinema de terror comodista que os norte-americanos realizavam no período.

O livro era uma tirada de sarro com a indústria, uma espécie de gozação com a necessidade mercadológica de lucrar com um projeto tão desnecessário quanto aquela refilmagem posterior comandada por Gus Van Sant. Já o filme, ainda que seja protagonizado por Anthony Perkins e uma encantadora Meg Tilly, esquece praticamente tudo o que foi estabelecido sobre o personagem no original. Ao invés do suspense e do uso da sugestão, o diretor Richard Franklin, filmando às pressas, transforma o protagonista, tridimensional no clássico e unidimensional nessa releitura, em uma atração interessante para o público jovem que vibrava com as mortes perpetradas por Jason Voorhees. O assassino perturbado vira um gentil candidato a funcionário do mês numa lanchonete, uma ideia que, por si só, já é um atentado à suspensão de descrença. A relação dele com a bela colega de trabalho, uma jovem que, na realidade, tinha a intenção de facilitar o caminho dele de volta para a insanidade, é tão inverossímil quanto os termos de sua liberação da penitenciária. Ela, em questão de dias, simpatiza com o colega e, num ato de incrível ingenuidade, começa a extravasar seus instintos maternos com ele.

O terceiro, terrivelmente mal dirigido por Perkins, retomaria, sem sutileza, algumas características de Bates, como o apreço pela taxidermia, porém, na maior parte do tempo, parece mais preocupado em proporcionar momentos de nudez gratuita. Uma cena, em especial, abusa do exploitation, quando uma jovem vítima tira o blusão na cabine telefônica, sem motivo algum, antes de ser esfaqueada. E, para reforçar o impacto, a cena insere um gore tolo, com ela pisando em cacos de vidro. Vale salientar que o mestre Hitchcock, no original, criou a cena imortal do banheiro, impactante até hoje, sem mostrar o facão penetrando o corpo de Janet Leigh. E, falando nela, acho bizarra a subtrama da freira fugitiva, que acaba atravessando o caminho de Norman, que fica obcecado por ela, já que é loira, com o mesmo corte de cabelo de Marion Crane, e, numa forçada de barra espetacular, tem as mesmas iniciais do nome: Maureen Coyle. O roteiro nos conduz a um final que, ouso dizer, está entre os mais toscos já imaginados no gênero. Nada é mais constrangedor do que ver um ótimo ator como Perkins, símbolo da era de ouro do cinema, acarinhando o braço decepado de sua mãe, enquanto repete aquele sorriso sombrio da cena final do filme original. É, literalmente, fim de carreira.

Os dois filmes são horríveis, indefensáveis, mas, por uma estranha razão, paro para assistir quando estão passando na televisão. O terceiro é praticamente uma comédia involuntária. A cena final do segundo, com Bates metendo uma pazada na cabeça da velhinha, é o único momento genuinamente interessante dos dois filmes. O ator chegou a retomar o personagem em uma sofrível quarta produção: “Psicose 4 – A Revelação”, provando que não tinha o menor senso crítico. 
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