terça-feira, 17 de novembro de 2015

Inversão de Valores

“Ele roubou porque é pobre, não teve oportunidade na vida...”

Eu sinto profunda vergonha, estou realmente preocupado com essa nova mentalidade que parece estar se espalhando, com as notícias recentes sobre os arrastões. Justificar a crueldade, a deficiência de caráter, a má índole, com a carência de bens materiais, não é somente um argumento incrivelmente desonesto e cretino, mas, também, uma atitude irresponsável de omissão perante um processo político de base ideológica simplista, com interesses populistas e eleitoreiros na manutenção do caos. A gênese pode ser traçada facilmente, um calculado interesse em dividir a nação, com um discurso de ódio, em duas trincheiras: pobres e ricos. Como se a desigualdade social fosse um fenômeno moderno. A única pobreza que verdadeiramente limita o ser humano é a de caráter.

O filho da comunidade mais pobre, aquele que foi criado com dificuldade por uma mãe analfabeta, que trabalhou em dois empregos, por toda a vida, para garantir que o menino fosse “do bem”, sabe que há valor na leitura de um livro, algo mais importante do que adquirir celulares caros. Prevejo com temor um futuro onde a mãe de um preso, ao visitar o filho na penitenciária, irá parabenizá-lo pelo compreensível revide na sociedade injusta. E irei dizer: sou de uma época em que as mães de presos, por menos instrução que tivessem, sentiam vergonha pelas atitudes do filho criminoso. É uma questão de caráter, índole. O real problema que deveria ser o foco nas discussões é a parentalidade irresponsável, uma família composta por seis crianças, inseridas em uma realidade onde apenas um deles, com dificuldade, poderia se alimentar de forma digna. E como o sistema atua nessa questão? Incentivando, com benefícios materiais, a produção irresponsável de filhos. Basta somar 2 e 2, não é complicado. O adulto que não compreende essa equação cruel, que formará um legado terrível para as próximas gerações, não enxerga dois palmos diante do nariz, ou, na pior das hipóteses, está sendo beneficiado nessa manutenção do caos. O tipo de egoísmo imediatista que possibilitou tragédias históricas.

A desigualdade social sempre existiu, sempre irá existir. Somente o trabalho e o estudo dignificam o ser humano. A dificuldade é um obstáculo a ser superado, ela engrandece o esforço. A pobreza que deve ser temida é a de espírito. O caráter se fortalece nas situações mais complicadas. O estímulo ao coitadismo, o vitimismo manipulador, é o recurso dos incompetentes, estratégia política pouco original que visa apenas a permanência no poder. Essa absurda inversão de valores, caso não seja interrompida, será um câncer maligno no futuro próximo do Brasil. 

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