domingo, 15 de novembro de 2015

"Aliança do Crime", de Scott Cooper


Aliança do Crime (Black Mass - 2015)
Um dos problemas principais do filme, sua estrutura convencional, altamente dependente de cenas expositivas, guiada por interrogatórios que conduzem a flashbacks, é temperada, de vez em sempre, por uma imersão no padrão do mafioso estereotipado estabelecido pelo “Os Bons Companheiros”, de Scorsese. Aquela agressividade exagerada no tom dos diálogos, até mesmo pra perguntar as horas, sem o cuidadoso estudo de personagem do já citado mestre, acaba potencializando apenas os aspectos caricaturais, algo péssimo em uma trama baseada em eventos reais. 

Johnny Depp é um ator esforçado, tem grande carisma, mas, desta feita, parece estar emulando, entonação de voz e maneirismos, aquela fúria contida de Jack Nicholson. As próteses no rosto, a careca, a maquiagem que deveria ser absorvida pela credibilidade da atuação, acaba se destacando nas cenas, uma distração que minimiza o impacto de várias sequências importantes. O cérebro segue consciente de que estamos vendo o ator em uma festa à fantasia. E, em dado momento, ainda no início do filme, por volta dos vinte minutos, o roteiro, de Mark Mallouk e Jez Butterworth, demonstra outro problema crasso, a falta de coragem. Vemos o Depp maquiado com o filho pequeno e a esposa, na mesa do café da manhã. O menino diz que estava sofrendo bullying e, pra se defender, esmurrou um coleguinha. Depp diz algo como: “Muito bem, filhão”, o que leva a esposa a reclamar. Cena típica de sitcom, com fotografia típica de sitcom. O protagonista então, por um generoso tempo, passa um sermão, indicando ao menino o real problema: O ruim não é a agressão, mas, sim, a agressão na frente de outras pessoas. A esposa, com a leveza de uma coadjuvante de “Friends”, responde: “Olha, acho que essa não é a melhor forma de se educar uma criança”. Por vários minutos, achei que estava no sofá de casa vendo um comercial de margarina na televisão. Ela é a esposa de um assassino, um mafioso, não há credibilidade alguma na forma como o roteiro, com mão pesada, conduz esse momento intimista do casal, que se estende por muito mais tempo do que deveria. Quando você se revira na poltrona, olha para o relógio e constata surpreso que se passaram apenas trinta minutos, sem sentir o menor interesse em acompanhar o desenrolar da história daqueles personagens, você percebe que o filme tem sérios problemas. 

Como recomendação, para aqueles que realmente se interessem em conhecer melhor a história do gângster Whitey Bulger, sugiro o documentário: Whitey: United States of America v. James J. Bulger, do ano passado, dirigido por Joe Berlinger. O diretor Scott Cooper faz o que pode com o fraco material à disposição, mas, apesar de todo o lobby que já se faz para o filme no Oscar, “Aliança do Crime” é muito pouco inspirado, com um ritmo moroso, coadjuvantes sem brilho, e salvo, na maior parte das vezes, pelo carisma do protagonista. 

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