domingo, 29 de novembro de 2015

"Love and Mercy", de Bill Pohlad


Love and Mercy (2014)
A opção por inserir, já nos créditos iniciais, um medley das canções mais famosas dos Beach Boys, num trabalho de reconstituição de época primoroso, sinaliza o tom da obra, uma celebração merecida, disponibilizada para uma geração tão carente de música de qualidade.

As atuações de Paul Dano e John Cusack, impecáveis, resultam em uma faceta tridimensional de Brian Wilson, o genial compositor que, em seu auge, sentia verdadeiro tesão pelo trabalho artesanal no estúdio, mas odiava aparecer em público. A estrutura é o convencional em uma cinebiografia, com inserções constantes de flashbacks, mas, ressaltando algo pouco usual, as duas fases são igualmente bem executadas. Jovem, nos bastidores de sua canção: “God Only Knows”, ele sofre a insensibilidade de um pai estúpido, incapaz de captar a música do filho como a sua forma mais sincera de expressão.

É fascinante perceber como ele, tão novo, sem zelo excessivo pela sua composição, enxerga a beleza no erro de um músico na gravação, recomendando que ele erre novamente. Em sua busca por um som experimental que rivalizasse com o trabalho dos Beatles, ele sabia que teria que estar aberto à mágica da casualidade, a matéria-prima de praticamente todas as grandes realizações humanas. Um dos maiores acertos da produção é dedicar tempo generoso ao aspecto mais importante de seu homenageado, a sua capacidade criativa, sem apelar para a emoção barata ou forçar a mão nos problemas pessoais. Quando ele, adulto, abre seu coração para sua namorada, vivida pela bela Elizabeth Banks, em uma mesa de restaurante, a câmera sutilmente mostra seu rosto fragmentado no espelho. Esses pequenos detalhes revelam tudo o que precisamos saber sobre o personagem. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário