sábado, 5 de abril de 2014

Basil Rathbone como "Sherlock Holmes"


Sou completamente fascinado pela criação máxima de Arthur Conan Doyle, o detetive Sherlock Holmes. Um personagem tão rico em minúcias psicológicas, que muitos leitores acreditavam que ele havia realmente existido. Ficamos conhecendo-o mediante esparsas observações que o escritor nos entrega ao longo das várias novelas e contos, sempre pelo ponto de vista do Dr. John H. Watson, o que acaba nos incitando a utilizar os mesmos métodos de dedução lógica de Holmes, como forma de entender suas motivações. Esta investigação que o leitor empreende com o prazer que advém de toda literatura de qualidade, acaba viciando-o. Novas descobertas surgem a cada revisão, uma prova da genialidade de Doyle.

Os motivos citados no parágrafo acima são suficientes para demonstrar a tristeza que sinto, quando percebo que este complexo personagem é reconhecido hoje em dia pelos jovens, como o brincalhão bom de briga interpretado por Robert Downey Jr. nos dois filmes medianos de Guy Ritchie. Tendo lido alguns comentários de fãs dos filmes, que ao buscarem o material original consideraram muito chato, chego a triste conclusão que a juventude do início do século vinte, mesmo sem as facilidades tecnológicas de hoje, era tremendamente mais inteligente, ou menos preguiçosa, que os aspirantes a “Steve Jobs” de hoje.

Enquanto os filmes de Ritchie entregam um divertimento tolo e um personagem diluído em excesso, vale salientar a extrema qualidade da moderna série da BBC: “Sherlock”, criada por Mark Gatiss e Steven Moffat. Atualizando o cenário, porém respeitando a essência da criação de Doyle, os roteiros dos episódios são melhores que os de muitos filmes que aportam todas as semanas em nossas salas de cinema.

Meu intérprete favorito continua sendo Basil Rathbone, que capitaneou quatorze produções entre 1939 e 1946. As primeiras nos estúdios 20th Century Fox, os excelentes “Sherlock Holmes – O Cão dos Baskervilles” (The Hound of the Baskervilles – 1939) e “As Aventuras de Sherlock Holmes” (The Adventures of Sherlock Holmes – 1939, onde o protagonista fala o clássico: “Elementar, meu caro Watson”), foram pioneiras ao retratar o personagem no período Vitoriano (somente nos dois primeiros filmes), sendo coerentes aos livros. Quando as produções vão para os estúdios Universal beneficiam-se com a formidável química entre Rathbone e Nigel Bruce, que elabora um Dr. Watson mais bonachão, como um necessário alívio cômico. Meus três filmes favoritos dentre os doze feitos para a Universal são: “Sherlock Holmes – A Mulher de Verde” (The Woman in Green – 1945), “Sherlock Holmes – A Melodia Fatal” (Prelude to Murder – 1946) e “Sherlock Holmes e a Arma Secreta” (Sherlock Holmes and The Secret Weapon – 1943), dirigidos por Roy William Neill. Os três utilizam apenas referências a alguns contos, porém fazem-no de forma charmosa e inteligente, inserindo inclusive o personagem no contexto da Segunda Guerra Mundial, como era comum na época, em filmes e revistas em quadrinhos. 

Os filmes da série são ingênuos (o vilão Moriarty morre em três produções), mas tremendamente divertidos. Caso queiram uma adaptação inteligente que seja fiel ao cânone do escritor, prestigiem a série da BBC. Finalizando esta modesta homenagem ao legado de Doyle, devo dizer que dentre todos os livros e contos, recomendo a todos que estão interessados em conhecer o personagem, a leitura da primeira parte de “Um Estudo em Vermelho” (pois estabelece a relação entre os protagonistas), seguida daquela que considero a melhor obra: “O Signo dos Quatro”. Provavelmente ao virarem a última página, estarão extasiados com o tema e prontos para aventurarem-se com o detetive da Rua Baker pelo resto de suas vidas.
Comentários
1 Comentários

Um comentário:

  1. Sou suspeita pra falar, pois sou fã de Doyle praticamente desde a infância. E "O Signo dos Quatro" foi o que li primeiro, rs... Lembro que, na faculdade, tínhamos de escrever uma crônica nas aulas de Composição I e minha inspiração foi "O Cão dos Baskervilles", rs... Bela homenagem! :)

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