segunda-feira, 6 de julho de 2015

"X-Men - Dias de Um Futuro Esquecido", de Bryan Singer


X-Men - Dias de Um Futuro Esquecido (X-Men - Days of Future Past - 2014)
O conceito de suspensão da descrença é essencial nas adaptações de quadrinhos de super-heróis. Acreditar, por um par de horas, que mutantes realizam feitos fantásticos, não é nem um pouco difícil. A tecnologia está cada vez mais facilitando nesse sentido. O único problema é quando algo distrai nossa atenção, como erros de continuidade ou incoerência narrativa. E esse filme abusa de ambos. Ele faz parte de uma saga cinematográfica, mas diferente dos heróis mais organizados do projeto “Vingadores”, o roteiro comete o erro de subestimar a inteligência e a memória do espectador, incitando-o a desconsiderar fatos ocorridos em filmes anteriores, além de simplesmente ignorar tramas completas. Essa atitude empresarial acaba por confundir o público fiel, que perde mais tempo tentando enxergar as soluções e explicações que nunca são satisfatórias, do que investindo o emocional e o racional na trama que é apresentada. 

O que nos conecta ao roteiro é o sentimento pelos personagens, ainda que a diversão barulhenta empolgue e faça parte da experiência. Quando não há coerência nas atitudes de um personagem importante, sem uma explicação bem elaborada, torna-se apenas uma boa oportunidade jogada fora. Por exemplo, no terceiro “X-Men”, o Professor Xavier (Patrick Stewart) morre desintegrado e é insinuado que sua mente entra no corpo de outra pessoa. Mesmo que essa pessoa fosse um irmão gêmeo, um sósia, ele não compartilharia a mesma paralisia nas pernas, correto? Já nesse filme, que se passa no futuro, lá está Patrick Stewart com as pernas paralisadas. E nenhuma menção é feita sobre sua morte. Parece besteira, mas se a ideia é conectar todos os filmes, como selecionar os elementos que devem ser considerados e aqueles que temos que fingir que não vimos? E qual é a garantia que temos de que os acontecimentos que ocorrem nesse projeto não serão totalmente descartados em um próximo capítulo da franquia? Com consciência disso, vale a pena gastar o preço alto do ingresso? Perguntas que se somam às várias que nos intrigam ao longo da trama. 

Há uma decisão empresarial que irrita por desrespeitar o material original, relegando Kitty Pryde (Ellen Page) a uma função tola, somente para mais uma vez colocar os holofotes sobre Wolverine (Hugh Jackman). A ideia dos clássicos quadrinhos é plenamente funcional e poderia sofrer ajustes, como na logística da viagem no tempo, para que sua função na missão não fosse alterada. Com isso, os produtores optaram por reutilizar um já desgastado Jackman, ao invés de injetar ar fresco e sangue novo. Por mais carisma que o ator tenha, são tantos os filmes protagonizados por ele, que já antecipamos todas as one-liners e até suas reações físicas. Não há na interpretação aquela ironia ácida que Joss Whedon inseriu em “Astonishing X-Men”, tampouco a brutalidade X-rated de Chris Claremont em sua fase ambientada em Madripoor. Talvez por esse motivo o filme ganhe fôlego apenas nas aparições do jovem veloz Mercúrio (Evan Peters), que protagoniza a melhor cena do filme, com um senso de humor tão eficiente, que até fingimos ignorar que ele utiliza fones de ouvido bastante modernos para 1975. Aliás, após mais ou menos cinquenta minutos, quando a trama realmente se foca na década de 70, quase nada funciona. Michael Fassbender fica apagado na maior parte do tempo, parecendo até estar enfadado. Até as cenas de luta da Mística (Jennifer Lawrence) tornam-se repetitivas, com suas “camuflagens” sendo expostas cedo demais, retirando aquele impacto que elas representavam nos filmes anteriores. 

O diretor Bryan Singer se esforça, mas o roteiro não ajuda. Comparado ao filme anterior, esse é bem apático e truncado, com breves momentos interessantes, mas no geral, uma excelente chance desperdiçada. 

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