sábado, 25 de julho de 2015

Cine Noir - "A Maleta Fatídica" e "Sombras do Mal"

Link para os textos do especial:


A Maleta Fatídica (Nightfall – 1957)
Analisando pela ambientação do ótimo desfecho da trama, as montanhas nevadas do Wyoming, fica claro que estamos diante de um filme noir audacioso, crepuscular, com um forte traço de humor negro, algo essencial para o diretor Jacques Tourneur. O roteiro, adaptado da obra de David Goodis, busca confundir o espectador com sua estrutura narrativa, elemento alcançado também com ajuda da fotografia primorosa de Burnett Guffey, tentando refletir o estado mental do vulnerável protagonista, o artista vivido por Aldo Ray, que é inserido por engano em um esquema criminoso. A tensão é mantida do início ao fim, com um trabalho de câmera bastante criativo, principalmente no primeiro ato. É impossível não perceber uma possível homenagem, temática e até no desenvolvimento dos personagens, no celebrado “Fargo”, dos irmãos Coen. Vale destacar a presença de uma jovem e linda Anne Bancroft, como a modelo que acompanha o pesadelo na vida do personagem. Gosto especialmente da cena em que eles se encontram, quando ela, acreditando que ele é um bandido, precisa enganar ele, conduzindo-o para os braços da lei através de sua sedução. Na filmografia do diretor, não é um projeto tão lembrado quanto “Fuga do Passado”, porém, basta assistir uma vez, para constatar a injustiça. Uma pérola do gênero.


Sombras do Mal (Night and The City – 1950)
Harry, vivido pelo sempre competente Richard Widmark, inicia o filme sendo perseguido, numa correria desesperada pelas ruas de Londres. Graças ao ângulo da câmera, mérito da fotografia de Mutz Greenbaum, parece que até mesmo a sombra dele está querendo se desassociar de sua patética figura. Essa é a essência do personagem, alguém que foge de qualquer responsabilidade, um golpista que ambiciona apenas ascender socialmente, sem um mínimo senso de decência ou integridade moral. Ele está inserido em um cenário onde não há vencedores, um pesadelo urbano expressionista onde todos estão dispostos a utilizar os meios mais baixos, uma visão amarga da sociedade. Gene Tierney, que vive a namorada, possivelmente o único foco de luz nesse cenário sombrio, foi contratada para o filme como um pedido especial de Darryl Zanuck, que estava preocupado dela ser consumida pela autocomiseração, cometendo até um suicídio, já que havia passado por sérios problemas pessoais. Ainda que, dentro da filmografia de Jules Dassin, esse filme seja eclipsado por “Rififi”, realizado cinco anos depois, “Sombras do Mal” é um produto superior, com uma aura brutal de pessimismo e desilusão, um reflexo do contexto em que se encontrava o diretor, inserido na Lista Negra de Hollywood, exilado por se negar a delatar colegas. Não é apenas um dos mais importantes filmes noir, mas, sim, um dos melhores filmes da história do cinema. 


* Os filmes estão sendo lançados em DVD pela distribuidora "Versátil", na caixa "Filme Noir, Vol. 3", que, além de ótimos documentários, contém também: "O Segredo das Joias" (Huston), "Um Preço Para Cada Crime" (Walsh), "Do Lodo Brotou Uma Flor" (Montgomery) e ""Mercado Humano" (Mann). 

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