segunda-feira, 6 de julho de 2015

"O Hobbit - A Batalha dos Cinco Exércitos", de Peter Jackson


O Hobbit - A Batalha dos Cinco Exércitos (The Hobbit - The Battle of The Five Armies - 2014)
É engraçado perceber que o diretor Peter Jackson sofre da mesma doença do dragão, o mal do ouro, que aflige o heroico anão Thorin nessa conclusiva aventura. Ao reger sua trilogia “O Hobbit” pelo mesmo diapasão de grandiosidade de “O Senhor dos Anéis”, ele conseguiu ofuscar a beleza da simplicidade no livro original de J.R.R. Tolkien. Com ação do início ao fim, “A Batalha dos Cinco Exércitos” tem menos problemas de ritmo, com pouco espaço para barrigas narrativas, então pode ser considerado o melhor dessa trilogia, o que não é dizer muito. Os personagens ainda são caricaturais, os conflitos continuam soando épicos apenas em teoria, conduzindo a resoluções com pouco impacto emocional. Em “O Retorno do Rei”, chorei ao assistir a simples cena praticamente silenciosa de Sam carregando Frodo para atirar o anel na montanha, mas nesse, checava o horário no relógio, enquanto ocorria o majestoso e barulhento confronto final. 

O escopo da batalha, com intenso uso de computação gráfica, fazia tudo parecer um jogo de videogame, com mortes que não causavam sentimento algum, já que os personagens, cujos nomes eu não havia memorizado, continuavam sendo uma incógnita após quase oito horas de espetáculo. Ao posicionar a conclusão da ameaça do dragão Smaug para o início do filme, o roteiro apenas desvaloriza o esforço dos dois filmes anteriores, o investimento emocional do público no conflito, já que ele é resolvido sem pompa alguma, com o foco sendo direcionado, com a sutileza de um rinoceronte numa loja de cristais, para a transformação psicológica no líder dos anões, um elemento que é visivelmente alongado, causando repetições expositivas irritantes, subestimando a inteligência do espectador. Richard Armitage (Thorin) entrega uma boa atuação, conseguindo inserir camadas mais interessantes ao discurso raso que defende, mas o olhar de Jackson parece mais disposto a nos entreter com o excessivo alívio cômico representado pelo tolo e insuportável Alfrid (Ryan Gage), que poderia ter sido excluído da trama e não faria falta alguma.

O hype nutrido pelos fãs obviamente passionais e nostálgicos tenta esconder o fato de que, infelizmente, essa nova trilogia não funcionou, podendo ser considerada um fracasso menos interessante que as prequels de Star Wars. Espero apenas que, analisado no futuro, esse esforço pífio não arranhe a beleza da trilogia original.

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