quarta-feira, 8 de julho de 2015

"O Monstro do Mar" e "Godzilla" (1954)


O Monstro do Mar (The Beast from 20,000 Fathoms – 1953)
Como resultado de um teste nuclear no Ártico, um carnívoro dinossauro desperta e segue em direção à costa Norte-Americana. Testemunha de sua existência, o desacreditado Professor Tom Nesbitt tenta convencer o paleontólogo Thurgood Elson dos perigos que a criatura pode trazer ao país.


Para calcular a importância dessa obra, basta mencionar que foi o primeiro grande trabalho de Ray Harryhausen, o cartão de apresentação pioneiro que demonstrou para o mundo o potencial dele com a técnica stop motion, em uma trama que apresentava o primeiro monstro gigante nascido de explosões nucleares, um conceito que viria a influenciar diversos filmes, especialmente o marco no gênero: “Godzilla”. A imponência visual do monstro era algo que o público nunca tinha presenciado na tela grande, e seus imitadores nunca chegaram a igualar a qualidade de sua composição. O ataque do Rhedossauro em Nova York, no terceiro ato, com a utilização eficiente de maquetes, continua encantando pela devoção artesanal, que sobrepujou o baixo orçamento. O roteiro, baseado em conto de Ray Bradbury, é simples, mas é compensado pela direção segura de Eugène Louiré, que viria a ser diretor de arte do clássico “Luzes da Ribalta”, de Chaplin.


Godzilla (Gojira – 1954)
Um gigantesco réptil mutante surge em virtude de testes nucleares. A monstruosa criatura cria um rastro de destruição no seu caminho até Tóquio, que corre o risco de ser totalmente destruída.


A meu ver, o monstro mais famoso do cinema só funciona em preto e branco. As sombras combinam perfeitamente com a alegoria que o original, dirigido por Ishirô Honda, defendia com seriedade. Uma trama que incita reflexões complexas, profundamente depressivas, sobre o impacto psicológico do desastre nuclear de Hiroshima e Nagasaki no povo japonês, evento que havia ocorrido apenas dez anos antes da produção. Os filmes posteriores são diversão descompromissada infantil, bobagens muito distantes da beleza de cenas como a do coro de crianças entoando um hino à paz, enfrentando com honra a possível destruição. É o momento pungente em que o véu da metáfora cai, revelando as cicatrizes abertas da nação. Vale destacar, no elenco, a presença marcante do grande Takashi Shimura, parceiro frequente de Kurosawa.


* Os filmes estão sendo lançados, em DVD, com ótimos documentários, pela distribuidora “Obras Primas do Cinema”, na caixa “Godzilla – Origens”, que conta ainda com a versão americana, intitulada “Godzilla – King of The Monsters”, com Raymond Burr, o assassino de “Janela Indiscreta”, vivendo um jornalista, inserido numa versão editada do original.  

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