segunda-feira, 8 de junho de 2015

"Promessas de Guerra", de Russell Crowe


Promessas de Guerra (The Water Diviner - 2014)
Quem conhece meu estilo nas críticas de estreias sabe que não sou um contador de sinopse, linhas que o interessado pode encontrar em qualquer veículo, não me sinto estimulado a prejudicar a experiência do leitor, ou subestimar sua inteligência, porém, faço questão de ressaltar que, para um melhor aproveitamento da trama desse filme, especialmente o primeiro ato, vale estudar sobre a Campanha de Galípoli, que, aliás, já rendeu um ótimo filme na década de oitenta, dirigido por Peter Weir. 

Não são todos os bons atores que conseguem surpreender na direção, Russell Crowe não é Charles Laughton, nem mesmo Mel Gibson, ainda que suas intenções sejam claramente honestas, falta ao neozelandês, trocando em miúdos, o necessário desapego estético em favor de um foco mais dedicado ao desenvolvimento dos personagens, um interesse menor em forçar a mão de verniz nas cenas, artifício que exala apenas a insegurança do cineasta em seu próprio ofício. Um exemplo: o primeiro momento em que Connor (Crowe) conversa com Ayshe (Kurylenko), no quarto da pensão dela. Sem necessidade alguma, a utilização da câmera transforma uma cena intimista, onde o diálogo deveria ser o elemento mais importante, em um pretensioso balé de equívocos, alternando reflexos no espelho que culminam em problemas amadores de continuidade, além de uma risível constatação da canastrice da atriz, que parece ser incapaz de transmitir o subtexto de maneira minimamente sutil. Quando ocorre a convencional subtrama romântica, que flui de forma irritantemente canhestra, a beleza que havia no conflito existencial do pai em busca dos filhos perdidos, leitmotiv épico por si só, que incita uma válida discussão sobre a importância do indivíduo em uma guerra, acaba dando lugar a uma improvável relação amorosa de folhetim que dilui o pouco interesse que havia sido estabelecido nos primeiros vinte minutos da obra. 

Outro artifício que soa ingênuo, culpa do roteiro de Andrew Knight e Andrew Anastasios, e acaba prejudicando a imersão, uma repetição de um flashback que o protagonista não vivenciou, em suma, uma solução apelativa de melodrama que abusa da suspensão de descrença do espectador. E nas poucas vezes em que a emoção parece brotar de forma natural, a direção descarta, de forma consciente, favorecendo novamente o verniz, alicerçado em um relato histórico de fidelidade bastante questionável. A atuação do próprio Crowe é o ponto alto, visivelmente motivado a contar essa história, mas não é o suficiente. 

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