sábado, 27 de junho de 2015

A importância da informação no consumo cultural

Como sempre tento fazer, analiso um evento absurdo tentando extrair dele uma reflexão mais profunda. Acho que é a melhor forma de lidar com a quantidade incrível de tolices diárias, entender o macro pelo micro, encontrar nele um sintoma para a doença maior, na esperança de instigar no leitor a busca pela imunidade. Todos devem se lembrar do caso das pessoas que foram avisadas pelos funcionários dos cinemas sobre o teor homossexual no filme nacional "Praia do Futuro". Essa situação rima com o caso similar da empresa brasileira que se recusou a produzir o Blu-ray do premiado "Azul é a Cor Mais Quente", exatamente pelos mesmos motivos.

Eu poderia conduzir o texto pelo viés óbvio da imaturidade emocional e ignorância científica do adulto brasileiro que se incomoda com cenas de sexo homossexual em um filme para adultos, mas seria dar murro em ponta de faca. A nossa educação é uma das piores no mundo, nossos adultos, na época, estavam tentando completar o álbum de figurinhas da Copa, horas naquelas filas imensas nas bancas de jornais. Não será um texto que irá modificar qualquer coisa nesse sentido. Mas é válido apontar um viés mais sutil nesse caso, o total desinteresse pela informação cultural. A dona de casa que vai ao Shopping Center, chegando perto da sala de cinema e sendo guiada pela beleza dos pôsteres. Ela não tem costume de ler jornal, gasta seu tempo virtual em futilidades, preocupada mais em manter suas unhas bonitas, já que não precisa exercitar seu cérebro nas noitadas caóticas dos bares e boates. Com a mesma apatia que exibe ao escolher o tipo de hambúrguer padronizado que irá pedir na lanchonete, ela passa os olhos rapidamente pelo elenco dos filmes que estão sendo exibidos. "Nossa, o Capitão Nascimento está no filme, não posso perder!".

Sim, não é exagero, grande parte das pessoas pensa dessa forma. Compram ingresso sem terem lido nenhuma resenha/crítica. Até para comprar tomates na feira, essas pessoas se informam antes. Não valorizam a informação ao consumirem cultura, pois a veem como item supérfluo, menos importante que os cosméticos que utilizam. Acho que todos se lembram do caso clássico do político que esbravejou publicamente após levar seu filho menor para assistir "Ted", aquele do ursinho politicamente incorreto. Enquanto a cultura for consumida cegamente apenas como fast-food, tapa-buraco e simples passatempo, nós iremos dividir sessões com toques ininterruptos de celulares, conversas animadas sobre parentes exóticos de estranhos e pessoas alienadas que decidem sair no meio do filme por motivos tolos.

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