terça-feira, 4 de novembro de 2014

"Guerra - Flagelo de Deus", de G.W. Pabst


Guerra - Flagelo de Deus (Westfront 1918: Vier von der Infanterie – 1930)
Radicalmente diferente do que ocorre no superestimado “Sem Novidade no Front”, lançado no mesmo ano, que exibia a angústia da Primeira Guerra Mundial com um verniz vistoso, o olho do diretor G.W. Pabst, demonstrando segurança em sua primeira incursão no cinema falado, está direcionado à corajosa desromantização do combate, negando todas as possibilidades de solucionar cenas potencializando a ação como facilitador de qualquer catarse emocional, deixando de explorar qualquer momento que tenha a violência como fator principal na narrativa. Ele recusa as fórmulas dos filmes do gênero, com sua câmera estática captando a destruição sem pretensões estéticas, evitando também o lugar comum que sempre insere a experiência militar como elemento definidor do caráter dos soldados.

O roteiro, baseado no livro “Quatro de Infantaria”, de Ernst Johannsen, evidencia que todos aqueles homens teriam ganhado muito mais caso tivessem ficado em suas casas, que a guerra é estúpida, um tremendo e absurdo desperdício de tempo. Até mesmo os poucos momentos de necessária diversão que o filme aborda em seu primeiro ato, apresentações ingênuas de vaudeville, são mostradas em ritmo lento, evidenciando a sensação de vazio e desorientação. A fotografia de Fritz Arno Wagner, que havia sido responsável pelo “Nosferatu” de Murnau, ajuda a dar realismo nas cenas das trincheiras, estruturadas de forma episódica, acompanhando as aventuras de quatro soldados colocados em uma realidade grotesca, obedecendo a ordens de aniquilar outros estranhos, porém iguais, que já se consideram mortos em vida. É interessante também a forma como o roteiro trata a desesperadora realidade das mulheres dos soldados, que eram forçadas à prostituição, evidenciada na cena que mostra o flagrante de uma traição.

É linda a forma como a obra termina, colocando lado a lado dois soldados inimigos moribundos. Um já não respira, enquanto o outro não reconhece motivos para o ódio que os colocou naquela situação. A forte mensagem que se mantém na mente após a sessão: ao sentir a presença da morte, com as mãos dadas, duas vítimas numa simples necessidade, o saciar da sede. Mas a imagem mais poderosa continua sendo a do soldado desabando emocionalmente no campo de batalha, soltando um grito aterrorizante, contemplando toda a dimensão da insanidade humana.

* O filme está sendo lançado pela distribuidora Versátil no box "A Primeira Guerra no Cinema", com mais cinco clássicos, incluindo "A Grande Ilusão" e o épico mudo "O Grande Desfile". 

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