quinta-feira, 27 de novembro de 2014

"Grand Central", de Rebecca Zlotowski


Grand Central (2013)
Com o olhar detalhista de uma documentarista, a jovem cineasta Rebecca Zlotowski direciona suas lentes para uma realidade desconhecida pela maioria do público, a rotina diária dos trabalhadores de usinas nucleares, filmada em locação. O roteiro consegue, sem apelar para o melodrama, entrecruzar o romance com os conflitos físicos e emocionais gerados pelo arriscado trabalho. 

O personagem vivido por Tahar Rahim é inconsequente, com uma mancha criminal em seu passado, um homem estruturalmente fragilizado. Como é mostrado numa rápida cena inicial, onde ele displicentemente monta um touro mecânico, fica estabelecida sua atitude irresponsável perante o perigo. O contraste visual entre a necessária rigidez da prática diária na usina e os encontros passionais libertários do casal dá o tom da tensão que é mantida do início ao fim. Existe também uma crítica subliminar, que espertamente é deixada para ser trabalhada no inconsciente do espectador, em que nunca sabemos se as eventuais vítimas da radiação sofrem por estarem morrendo ou por estarem perdendo seus empregos. 

A metáfora principal é ainda mais interessante, já que o protagonista é consumido gradativamente por seu desejo pela bela noiva de seu colega, vivida por Léa Seydoux, tanto quanto pela radiação. Ele não se importa em colocar sua saúde em risco, contanto que se mantenha próximo da garota. A jovem, por outro lado, esconde por trás de sua atitude sexualmente desafiadora, representada também pelo seu vestuário, um terrível medo de se apaixonar. Esse medo intangível nos dois, simbolizado pela intoxicação radioativa e pela ousadia da escolha por um amor proibido, é realmente o leitmotiv da obra, o elemento que o diferencia dentre tantos romances convencionais.

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