segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Sobre a polêmica da seleção do filme nacional a lutar pela vaga no Oscar

Quem acompanha meu trabalho sabe quantos textos já escrevi sobre a irrelevância do Oscar como parâmetro de qualidade. É um show televisivo fracamente roteirizado que vive de lobby e precisa de bons índices de audiência. O cinema não é uma corrida de cavalos, o jogo movimenta a indústria, mas diz muito pouco sobre a arte.

Com relação à escolha nacional da comissão para concorrer à vaga na premiação, "Pequeno Segredo", do diretor David Schurmann, não posso opinar sobre seus méritos, conheço apenas o livro original, a história é linda, espero que tenha sido adaptada com esmero. A decisão causou rebuliço nas redes sociais, com direito a muita agressividade nos comentários da página oficial da produção. Algo me diz que os defensores de "Aquarius" estariam se revoltando publicamente com a mesma intensidade caso o escolhido fosse qualquer um dos outros 15 trabalhos inscritos. Qualquer obra escolhida validaria o discurso equivocado de "golpe". Não considero uma postura elegante, por mais que o debate seja sempre louvável, acho grosseiro diminuir o esforço da equipe do filme selecionado e desrespeitar o critério utilizado pelos profissionais que fazem parte da comissão. Na mente dos defensores, somente os diretores que retiraram os filmes são corretos. Analisando de forma lógica, o mais correto, seguindo essa linha de raciocínio torta, seria o próprio "Aquarius" ter se retirado da competição, já que mostraria que não compactuam com o que eles consideram que seja um "golpe" da comissão. Não, eles ficaram e elogiaram os concorrentes que saíram. Isso não faz sentido algum. Caso a esquerda fosse minimamente coerente, não estaria se importando com qualquer notícia relacionada ao que os seus militantes chamariam de "festa autocelebratória do capitalismo", mas não se deve pedir coerência à fanáticos praticantes da dissonância cognitiva.

Ainda não escrevi sobre "Aquarius", farei em breve, mas já posso adiantar que encontrei pontos positivos valiosos, especialmente a atuação irretocável de Sônia Braga, mas também muitos pontos negativos no roteiro, o esqueleto de um filme. O fato é que, retirando da equação a passionalidade dos defensores, eu achei o todo inferior a "O Som ao Redor", trabalho anterior do diretor Kleber Mendonça Filho, que era menos pretensioso e funcionava melhor. Ainda que a defesa apaixonada esteja afirmando que é uma "obra-prima", "o melhor filme nacional de todos os tempos", já li até comparações absurdas com o fantástico "Terra em Transe", de Glauber Rocha, eu tenho certeza que o tempo irá abraçar o projeto com o manto da lucidez. É um bom filme, mas está longe de ser merecedor de toda essa atenção.

Da mesma forma que me posicionei contrário ao boicote que muitos organizaram contra "Aquarius", por ter a convicção de que o filme não poderia ser prejudicado pela opinião política de sua equipe, não posso deixar de afirmar meu repúdio à atitude deselegante dos que estão desmerecendo o esforço de todos os envolvidos na obra selecionada pela comissão.

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