quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Sobre debates políticos televisivos

Quando escrevemos sobre filmes, livros, música, arte em geral, adentramos em um universo de pura beleza regido pelas plenas potencialidades da inteligência, tentando extrair reflexões lúdicas e que inspirem o ser humano no constante aprimoramento. Escrever sobre política no Brasil em tempo de eleição é, infelizmente, nada estimulante. Esse jogo de assessores engravatados, que envolve agressões, difamações públicas, mentiras, um sistema falido que se mantém apenas pela obrigatoriedade do voto, uma verdadeira aberração em uma nação que se diz democrática. Até mesmo alguém que não sabe sequer argumentar algo que se assemelhe a um raciocínio lógico, com a máquina política atuando, pode se tornar o candidato mais votado à presidência. Nós acabamos de ver o final dessa história. E, por incrível que pareça, aquele que sabe se expressar e possui estofo político e cultural, pode aparecer em último nas pesquisas. E, completando essa esquisita equação, a urna eletrônica não é segura, tendo sido rejeitada em mais de sessenta países. Holanda e Alemanha, por exemplo, consideram essas urnas “criminosas”. O eleitor consciente é obrigado a escolher o candidato que é menos terrível, já que as rasas opções refletem o trambique que rege esse sistema, que nutre esse círculo vicioso de corrupção.

Numa realidade mais séria e lúcida, o voto consciente seria conquistado pelo político que tivesse conseguido argumentar os motivos que o tornam, por meritocracia, o candidato certo. Ao invés de programas televisivos melodramáticos maquiados no horário eleitoral, com um roteiro pobre já desgastado, jingles e figurantes em cenas constrangedoras, os políticos agiriam sem roteiros analisados previamente pelos assessores, debatendo temas importantes com profundidade e coerência ideológica, não apenas alguns poucos segundos de réplicas e tréplicas. E nem irei comentar sobre os alívios cômicos, vergonha alheia suprema, que, de tão bizarros, chego a pensar que estou sob o efeito de alguma substância lisérgica. Os debates que ocorrem nas emissoras de televisão, por melhor conduzidos que sejam, apresentam caricaturas que parecem não saber pensar e cruzar os braços ao mesmo tempo. Quando algum começa a falar por impulso, agindo sem o roteiro memorizado, o tempo acaba. Os políticos precisam falar bastante, pois eles irão, caso eleitos, receber uma fortuna, além dos maravilhosos benefícios do cargo, pelo trabalho que intencionam realizar. Mais argumentos e coragem de questionar temas polêmicos, menos agressões, jogo sujo e consumo populista de pastéis oleosos da padaria do subúrbio, uma realidade que só visitam em época de eleição.

As pesquisas de intenção de voto, que mais parecem ferramentas de indução de voto, acabam surtindo efeito desastroso numa grande parcela da população analfabeta funcional, que decide o voto como se escolhesse o cavalo vencedor na corrida. “Ah, não vou votar no político X, ele não tem chance de ganhar”. Ganhar? Conceito equivocado. Eleição não se ganha, não é loteria ou luta de boxe. O tolo teme votar naquele que a pesquisa diz que irá receber menos votos, pois se sentiria como se tivesse apostado no cavalo errado. Sua escolha não é ditada pelo estudo das propostas e da argumentação do candidato. Analisando filosoficamente, como um sistema tão falho como esse, em uma nação carente de educação e princípios, pode resultar em algo minimamente válido? É humanamente impossível.

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